“Os professores mais novos nos quadros das escolas têm 40 anos”
Especialista defende redução da componente letiva dos professores mais antigos para travar envelhecimento da classe e abrir horários para docentes mais novos
Este ano vamos ter muito poucos professores aposentados. O que significa isso para o sistema de ensino? Não me espanta. A maior parte das pessoas que estavam em condições de sair, já saíram. No ano passado já reduziu um pouco o número, porque muitas pessoas saíram com aposentações antecipadas. É verdade que este ano houve alguma esperança em que a situação se pudesse inverter um pouco. Algumas pessoas que estavam a pensar sair, talvez tenham esperado para ver como seria, tiveram esperança numa melhoria das condições de trabalho, nomeadamente que a entrada do novo governo viesse alterar as coisas. Foi a combinação desses dois fatores. A esperança de que a situação laboral pudesse vir a melhorar um pouco explicará que exista esse reduzido número de pedidos de aposentação. Isso coloca-nos perante um cenário de envelhecimento do quadro de professores. Que efeitos práticos terá, em termos sociológicos, esse retrato? Essa redução na saída de professores leva-nos de facto a esse cenário. Nos quadros das escolas os professores mais novos já têm quarenta e muitos anos e um grande número com mais de 60. Está tudo muito concentrado acima dos 50 anos. Nas escolas, há um cenário que é este: apesar de sair menos gente, isso não quer dizer mais recursos nem melhor ensino. As pessoas tentam aguentar o máximo possível para não sofrerem penalizações nas reformas, para garantirem condições mínimas de dignidade. Esse envelhecimento é um fator de preocupação para as escolas? É, mais no sentido do desgaste profissional. E ao ficarmos concentrados à volta de uma geração – isso tem as suas vantagens, pois há alguma identificação entre as pessoas em relação aos seus métodos – revela uma não abertura em termos de novos métodos. Um professor contratado que vai fazer seis ou nove meses numa escola é diferente de um professor que entra aos 30 anos para a carreira e chega para dar um contributo a essa mesma escola. O que nós precisávamos era de pessoas colocadas a médio e longo prazo nas escolas, que permitissem combinar com a experiência dos mais velhos e ter outros resultados com os alunos e na própria educação. Na sua opinião, como é que se consegue inverter essa situação? Com algum investimento, que nem seria tanto assim. Bastava reduzir a componente letiva dos professores mais velhos, permitindo abrir horários para professores mais novos nos quadros e não apenas contratados. Porque assim deixaríamos de ter os professores nessas circunstâncias, quase proletarizados, a ganhar 700 ou 800 euros, e às vezes terem de estar em duas ou três escolas, e havendo coragem de abrir mais uns lugares de vagas nos quadros, para com esses mais novos aligeirar o trabalho dos mais velhos, e ao mesmo tempo rejuvenescer o universo dos professores. E isso nem sequer implica um investimento brutal. O que exige é coragem política do governo para abrir essas novas vagas. Porque os professores estão desgastados. Eu há 10 anos atrás, com a idade que tenho agora (51), fazia menos horas do que atualmente. Parece-lhe que os restantes agentes da comunidade educativa – como os pais, por exemplo – têm noção desse retrato nas escolas, desse envelhecimento do corpo docente? Acredito que sim. As situações que se passam nas salas de aula são muitas vezes contadas em casa. Também sou encarregado de educação e tenho essa noção. Os filhos contam o que se passa nas aulas. Muitas das situações são resultantes de cansaço e de desgaste ao longo dos anos, e isso obviamente condiciona as aprendizagens. Temos uma larga maioria de pessoas a perceber claramente o que se passa, mas depois temos uma percentagem de 10% ou 15% contra os serviços públicos, que os acusam de tudo e mais alguma coisa, e que têm espaço na comunicação social.