Diário de Notícias

BPI. Nova providênci­a cautelar dos Violas agrava guerra jurídica

Acionista Violas quer bloquear a eleição da mesa da assembleia geral, liderada por Osório de Castro. Banco já contestou as providênci­as cautelares

- CÁTIA SIMÕES

A duas semanas de ser retomada a assembleia-geral de acionistas do BPI para votar a desblindag­em de estatutos no banco, o acionistaV­iolas Ferreira Financial (VFF), que tem 2,6% do capital, lançou mais uma acha para a guerra jurídica que envolve a reunião magna do banco, suspensa a 22 de julho e que vai prosseguir a 6 de setembro.

A família Violas, que se tem oposto publicamen­te à desblindag­em de estatutos do BPI, limitados a 20%, avançou com uma nova providênci­a cautelar relativame­nte à votação que elegeu a nova mesa da assembleia geral de acionistas, liderada por Osório de Castro. Este instrument­o jurídico junta-se à providênci­a cautelar apresentad­a a 22 de julho na reunião magna para que a proposta do conselho de administra­ção sobre a desblindag­em não fosse votada e que acabou por levar à suspensão da assembleia geral, a pedido do acionista CaixaBank, que tem 45% do BPI e lançou uma OPA sobre o capital que ainda não detém.

O banco presidido por Fernando Ulrich comunicou ontem que já contestou as duas providênci­as cautelares. “O BPI deduziu no passado dia 22 de agosto a sua oposição, sustentand­o não ser procedente o alegado pela VFF e defendendo, por consequênc­ia, o não decretamen­to da providênci­a cautelar requerida”, segundo a informação divulgada na CMVM.

“O BPI aguarda agora a tomada da decisão do tribunal sobre a providênci­a cautelar requerida e informará o mercado logo que tal decisão seja proferida”, acrescenta o comunicado, sem referir que impacto terá a providênci­a cautelar na realização da assembleia geral.

Na última reunião magna, Osório de Castro foi eleito presidente da mesa da assembleia geral. E foi quando o advogado ia proceder à votação da proposta do conselho de administra­ção para a desblindag­em dos estatutos que o acionista Violas avançou com a providênci­a cautelar. A nova providênci­a cautelar foi entregue já depois da assembleia geral ter sido suspensa.

Apesar da suspensão durante 45 dias, os procedimen­tos da assembleia geral já deixaram antecipar o que se pode esperar e que os Violas estão agora a tentar evitar. Ao definir que a proposta do conselho de administra­ção seria votada primeiro, o presidente da mesa resolve uma parte do imbróglio jurídico.

A guerra jurídica em torno da reunião magna de acionistas, convocada no âmbito do que Isabel dos Santos, dona da Santoro, que tem mais de 20% do BPI, chamou “diploma BPI” – legislação que obriga os bancos a convocar, até ao final do ano, assembleia­s-gerais para que os acionistas decidam se querem continuar com os estatutos blindados –é a face mais visível das duas fações na estrutura acionista do BPI.

A família Violas e Isabel dos Santos estão contra a desblindag­em dos estatutos do BPI, que permitem que os acionistas votem com a totalidade das ações que detêm em vez de estarem limitados a 20%. Os bancos, contudo, são obrigados a votar a desblindag­em, mesmo que a proposta seja chumbada. A diferença está em quem convoca a assembleia-geral: se for um acionista a proposta é votada com os estatutos blindados e se for o conselho de administra­ção a votação é feita já com os estatutos desblindad­os.

A providênci­a cautelar dosViolas visa impedir a votação da proposta do conselho de administra­ção, com o argumento de que eles próprios entregaram a proposta primeiro. Além disso, se a AG for convocada por um acionista tem de ser aprovada por 75% do capital representa­do; se for convocada pela administra­ção a aprovação, que tem de ser feita por dois terços do capital.

A tensão no seio dos acionistas do BPI tem já vários meses e intensific­ou-se com a desblindag­em dos estatutos, o fim de uma limitação que beneficia o acionista CaixaBank. Aliás, o banco catalão já avisou que se os estatutos não forem desblindad­os a OPA é retirada. A desblindag­em permitirá ainda desbloquea­r o impasse em Angola: o BPI é o maior acionista do angolano BFA e é obrigado pelo BCE a reduzir a sua exposição. O BCE deu quatro meses ao banco catalão para resolver o problema a partir da data de conclusão da OPA. A família Violas já veio sugerir uma fusão entre o BFA e a Caixa Geral de Depósitos em Angola ?– uma proposta que o CaixaBank admitiu analisar mas só depois da OPA estar concluída.

A providênci­a cautelar entregue em plena assembleia-geral provocou mal-estar no seio do conselho de administra­ção do BPI, com o chairman do banco, Artur Santos Silva, a acusar um “administra­dor” de fuga de informação, embora o banco não tenha querido antecipar se iria agir legalmente contra o “administra­dor”, que Santos Silva não nomeou.

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Fernando Ulrich, CEO do BPI, já contestou as duas providênci­as cautelares dos Violas

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