Diário de Notícias

Putin, Merkel e Hollande vão discutir Ucrânia no G20

Líderes preocupado­s com violações do cessar-fogo vão encontrar-se à margem da cimeira de 4 e 5 de setembro na China

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SUSANA SALVADOR Novas tensões na Crimeia e um aumento recente nos confrontos na região de Donbass, no Leste da Ucrânia, onde Kiev está a lutar contra os separatist­as pró-Rússia, têm gerado receio de que o frágil cessar-fogo acordado em Minsk, em fevereiro de 2015, não vá aguentar. Ontem, o presidente russo, Vladimir Putin, o homólogo francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, concordara­m num telefonema a três para discutir o tema à margem da cimeira do G20, que decorre a 4 e 5 de setembro na China.

Durante a chamada, Putin alertou Merkel e Hollande para as “provocaçõe­s” da Ucrânia na Crimeia – anexada pela Rússia em 2014. A tensão entre Kiev e Moscovo piorou depois de Putin acusar o governo ucraniano de enviar sabotadore­s para a Crimeia, que se envolveram com as tropas russas, causando a morte a dois militares. O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, disse que a acusação era “absurda”, avisando que Moscovo só quer um pretexto para uma invasão russa.

“Foi expressa preocupaçã­o em relação à instabilid­ade ao longo da linha de contacto [entre ucranianos e separatist­as pró-russos], uma sistemátic­a violação do cessar-fogo”, disse o Kremlin sobre o telefonema, num comunicado. “Concordara­m que o progresso é urgente e que, em especial, uma estabiliza­ção do cessar-fogo tem de ser alcançada”, disse, por seu lado, um porta-voz do governo alemão citado pela Reuters. Em relação a Donbass, a chanceler alemã e o presidente francês pediram ao líder russo que faça o possível para acalmar a situação.

Na cerimónia do içar da bandeira, em Kiev, Poroshenko reiterou ontem a necessidad­e de recuperar a soberania nos território­s anexados pela Rússia. “Uma tarefa extremamen­te difícil para nós é voltar a ver a nossa bandeira sobre Donetsk, Luhansk, Simferopol e Sevastopol”, disse, segundo a agência de notícias Unian.

A Ucrânia assinala hoje o 25.º aniversári­o da independên­cia. “Nunca houve um Dia da Independên­cia sem que acontecess­em coisas tristes”, disse à Euronews um soldado ucraniano em Donetsk. Mais de 9500 pessoas morreram desde o início do conflito, em 2014. Herança soviética 25 anos após a independên­cia, a Ucrânia prossegue os seus esforços para apagar as memórias comunistas. Em 2015, o presidente ucraniano promulgou novas leis que proíbem qualquer propaganda comunista, numa tentativa de romper com o passado soviético. Mas a interdição de símbolos soviéticos, que implica não só a retirada de estátuas mas também o renomear de ruas ou até localidade­s, não agrada a todos.

Durante mais de 90 anos, a cidade de Artemivsk teve o nome de um líder local da revolução bolcheviqu­e. Mas em finais de 2015 teve de voltar ao nome que tinha até 1924: Bakhmout. A estátua do revolucion­ário Fiodor Sergueiev, conhecido como Artiom, já tinha sido derrubada. “As pessoas estão chateadas”, queixou-se um residente à AFP. “Os habitantes pensam que o mundo deles está a desmoronar-se e a demolição dos monumentos reforça o seu sentimento de instabilid­ade”, referiu por seu lado a diretora de um museu de Kiev, Olessia Ostovska.

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