OS DISCOS
OS PRIMÓRDIOS › Gravado e publicado em 1954, um ano em que o autor esteve quase sempre ocupado com a preparação dos seus trabalhos eruditos para a apresentação na Ópera de Monte Carlo. Autor aplaudido, Ferré perseguia o reconhecimento como intérprete. É ele que dirige a orquestra de cordas. Entre as canções avultam a insólita Merci, Mon Dieu, ironia de um ateu, e o tema-título, recusado por Edith Piaf e cantado, ainda antes deste “regresso a casa”, por Catherine Sauvage e Patachou.
OS POETAS › Depois de um primeiro “ensaio” – em torno de Les Fleurs du Mal, de Charles Baudelaire – em 1957, Ferré aproveita um contrato discográfico recente, com a Barclay, para sublinhar o amor aos poetas (que prosseguirá com Verlaine, Rimbaud, Apollinaire e de novo Baudelaire), cantando Louis Aragon, seu contemporâneo, militante comunista e personalidade controversa. Poeta e cantor chegam a encontrar-se um par de vezes e o escritor apadrinha sem reservas o trabalho de Ferré.
O PLENO › O “agente provocador” está na plenitude dos seus recursos, começando no displicente cigarro da capa, e no olhar que não “dá tréguas”. Ferré aproveita as “potencialidades de comunicação” do rock e convoca, para sete das nove canções, o grupo Zoo, com que já gravara esporadicamente. Político (Le Condionnel des Varietés), amargo (À Mon Enterrement), imperativo (Faites L’amour), o disco é uma das obras-primas do autor. E começa bem: “Je suis d’un autre pays que le votre…”.