Um francês filma memórias cubanas
REGRESSO A ÍTACA LAURENT CANTET O francês Laurent Cantet é um cineasta magnificamente inclassificável. Mais conhecido por esse drama sobre a vida numa escola, A Turma, que lhe valeu a Palma de Ouro de Cannes 2008, vai explorando os universos mais inesperados, sempre com metódica acutilância. Assim aconteceu em Foxfire (2012), sobre um grupo de adolescentes nova-iorquinas de meados da década de 1950; assim volta a acontecer neste magnífico Regresso a Ítaca (2014), que, apesar do atraso com que nos chega, não deixa de ser um dos grandes acontecimentos do verão cinematográfico. Cantet trabalhou com o escritor cubano Leonardo Padura para elaborar um drama (à beira do psicodrama) em que um grupo de amigos avalia, entre um pôr do Sol e a manhã seguinte, as ilusões e desilusões de toda uma geração marcada pelas utopias do “socialismo real”. Com um magnífico lote de atores ( Jorge Perugorría será o mais conhecido), este é um filme sobre a dimensão mais íntima da política, quer dizer, sobre o modo como as convulsões coletivas rasgam os destinos individuais. JOÃO LOPES