Homem grande, coração maior
O GRANDE FÚSI DAGUR KÁRI Fúsi é um homem de avultada estrutura física, que aos 40 anos ainda está a viver em casa da mãe. Come a mesma taça de cereais com leite todos os dias ao pequeno-almoço, tem como hobby fazer maquetes de campos de batalha, ou brincar com carros telecomandados. Janta todas as sextas-feiras o mesmo prato, no mesmo restaurante, e ouve heavy metal fechado dentro do carro, em pedidos exclusivos a um locutor de rádio. O retrato dos seus hábitos dá a dimensão exata da pequenez dos seus dias, que não o arrancaram desta apatia infantil... Mas o coração de Fúsi transborda. E é sobre essa mudança fundamental, com dores de crescimento, que o filme de Dagur Kári deita um olhar, ao mesmo tempo compassivo e desapaixonado. Pelo carácter mormente benigno da narrativa, esta coprodução dinamarquesa e islandesa não tem garantido um lugar especial na nossa memória, mas é preciso dizer que, nos seus melhores momentos, O Grande Fúsi consegue a apurada tepidez dramática de um filme de Aki Kaurismakï. E isso não é coisa pouca. INÊS LOURENÇO
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