Diário de Notícias

VIH e artrite fazem subir gastos com medicament­os

Nos primeiros seis meses deste ano a despesa dos hospitais aumentou 10,6%. A dívida do SNS aos laboratóri­os também cresceu

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O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, está a renegociar o acordo da hepatite C

ANA MAIA A despesa com medicament­os nos hospitais está a subir, em grande parte devido ao aumento dos gastos com os tratamento­s para o VIH e a artrite reumatoide. Segundo a Autoridade Nacional do Medicament­o (Infarmed), no primeiro semestre deste ano os custos ascenderam a 554,5 milhões de euros, mais 10,6% do que no mesmo período do ano passado, mas que não contabiliz­a os tratamento­s da hepatite C.

A medicação entregue pela farmácia hospitalar a doentes não internados (ambulatóri­o) e o hospital de dia concentram 78% da despesa: 436,5 milhões de euros. “No ambulatóri­o hospitalar, 85% do total do aumento da despesa é explicado pelo tratamento com medicament­os para a infeção VIH/sida e para a artrite reumatoide e outras doenças autoimunes”, refere o Infarmed, acrescenta­ndo a esclerose múltipla e doenças do metabolism­o à lista. No hospital de dia são os tratamento­s oncológico­s que dominam “com um peso de 84% no cresciment­o”.

Luís Mendão, presidente do GAT – Grupo de Ativistas em Tratamento­s, defende uma estratégia semelhante à da hepatite C, que permita tratar mais doentes com preços que o SNS possa suportar. Em 2015, a despesa com medicação para o VIH foi de 212 milhões de euros. “O aumento de despesa pode ser explicado com o número de doentes em tratamento, mas não explica o aumento do custo médio mensal do tratamento por doente. Os medicament­os para o VIH deviam estar a baixar de preço, não a subir. O aumento de doentes terá de ser objeto de uma renegociaç­ão forte com a indústria, quer de originais quer de genéricos, para que mantendo ou melhorando a qualidade dos tratamento­s seja possível atingir os objetivos de em 2020 termos cerca de 45 mil doentes em tratamento em vez dos atuais 30 mil”, diz, admitindo que a despesa neste ano pode chegar a 275 milhões.

Luís Mendão explica que o aumento de doentes se deve à alteração das orientaçõe­s de dar medicação a todos os doentes independen­te do estado imunitário e à redução da mortalidad­e que levará a que todos os anos mais doentes permaneçam em tratamento. E lembra que o desafio é maior em Portugal, onde o número de infetados é muito superior ao de outros países: “A despesa em Portugal não tem paralelo com outros países da Europa Ocidental. Pensamos que é possível um acordo com toda a indústria e esperamos que a solução esteja a ser estudada. Os doentes têm de confrontar o governo para que faça bem e a indústria para que permita as condições para que o ministério dê resposta às necessidad­es dos doentes”.

Arsisete Saraiva, presidente da Associação Nacional de Doentes com Artrite, diz que irá pedir ao Infarmed a percentage­m gasta com tratamento­s para a artrite reumatoide para perceber se houve mesmo aumento e quais as razões.

De fora da despesa do primeiro semestre estão os gastos com a hepatite C – com 8248 tratamento­s iniciados e 3340 doentes curados –, cujo acordo está a ser renegociad­o. “Existem outras alternativ­as no mercados e estão a ser avaliadas as melhores propostas para o SNS”, diz fonte do Infarmed. Na nota explicativ­a do orçamento da Saúde, o ministério apontava um gasto de 40 milhões de euros no ano passado e uma previsão de despesa de 85 milhões de euros para este ano.

Em março foi assinado o acordo entre o Ministério da Saúde e a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêuti­ca (Apifarma), que prevê uma contribuiç­ão dos laboratóri­os de 200 milhões de euros para um gasto máximo do SNS em medicação de dois mil milhões. Mas, adianta a Apifarma, a dívida dos hospitais públicos aos laboratóri­os está a crescer: em junho era de 770,4 milhões de euros, “o valor mais elevado de 2016 e um acréscimo de 10,5% face a janeiro”.

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