Diário de Notícias

Portugal e Espanha ajudam a baixar desemprego jovem na Europa

A crise económica em alguns países emergentes vai provocar um novo aumento do desemprego jovem a nível mundial. Europa é exceção, graças aos países do Sul. Há também mais jovens empregados em risco de pobreza

- ANA MARGARIDA PINHEIRO

Maria S., assim que terminou o curso de Marketing, em julho de 2014, embarcou num estágio curricular que lhe deu, mais tarde, acesso a um contrato. “Estive um ano a trabalhar, mas a diretora acabou por encerrar a empresa.” Com a decisão de fecho, e o despedimen­to dos funcionári­os, começaram as dificuldad­es para a jovem licenciada. “Por atrasos da empresa não consegui acesso ao subsídio de desemprego e, depois de três meses em casa, comecei a sentir-me frustrada.” Enviou “dezenas de currículos” para empresas da área, mas só obteve duas respostas – negativas. Solução? Esqueceu as qualificaç­ões e candidatou-se a uma loja de roupa. O contrato é de seis meses, o salário “não é assim tão mau” e, quando terminar, “deve ser renovado”.

O caso de Maria está longe de ser único – a Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT) prevê que, depois de uma recuperaçã­o nos últimos três anos, o desemprego entre os mais jovens vai voltar a aumentar neste ano e em 2017. E, mesmo os que trabalham, vivem situações precárias, em muitos casos, em risco de pobreza, mostra o relatório “World Employment Social Outlook”.

A degradação económica dos países emergentes que irão crescer ao ritmo mais baixo desde 2003 explica o aumento do desemprego. A fragilidad­e destas economias, que devem ficar 0,4 pontos aquém das expectativ­as de cresciment­o, deverá aumentar a percentage­m de jovens ativos sem trabalho para 13,1%, um número demasiado próximo dos 13,2% de máximo atingido em 2013, no pico da crise financeira, de acordo com o relatório publicado ontem pela OIT.

Contrariam­ente ao que aconteceu nos últimos anos, a Europa vai ser uma exceção e, se a perspetiva se confirmar, o desemprego jovem irá recuar para 19,3% em 2016, menos 0,9 pontos do que no ano passado. Por sua vez, em 2017 haverá uma nova descida para 18,4%. A liderar estas reduções estarão os países do Sul, Portugal incluído, os grandes responsáve­is pelo aumento do desemprego nos anos da crise.

“Uma grande fatia desta redução deve-se aos desenvolvi­mentos em certos países de elevado desemprego, como Itália, Portugal e Espanha, onde são esperadas reduções significat­ivas nas taxas de desemprego jovem ao longo de 2017”, refere o organismo internacio­nal, que não tece mais consideraç­ões sobre Portugal.

“É uma tendência que deve servir de alento aos jovens portuguese­s, numa altura em que tudo indica que, pela primeira vez, esta geração deverá vir a viver em piores condições do que os seus pais”, lembra Bruno Teixeira, líder da Comissão da Juventude da UGT. “Quem hoje entra no mercado de trabalho ganha, em proporção com o que acontecia há 20 anos, um salário mais baixo e a qualidade do trabalho também é inferior”, realça.

Está longe de ser uma realidade apenas portuguesa. “Os números do desemprego evidenciam grandes desafios para o mercado de trabalho jovem, já que, apesar de muitos estarem a trabalhar, é largamente insuficien­te para os retirar da pobreza”, mostra a OIT, sublinhand­o que “só nos países em desenvolvi­mento 156 milhões de jovens vivem em extrema pobreza, com menos de 1,90 dólares por dia ou em pobreza moderada, entre 1,90 e 3,10 dólares por dia, mesmo estando a trabalhar”.

Carla Marques, da Randstad, lembra que um pouco por todo o mundo, e também em Portugal, os trabalhos temporário­s estão a ajudar alguns jovens a sair das listas do desemprego e que estes vínculos, apesar de pouco duradouros, levam muitas vezes a contrataçõ­es futuras. “Dão flexibilid­ade, ajudam muitas vezes a suportar os estudos e servem de ocupação até que se encontrem empregos mais duradouros.” São, por isso, uma ajuda para que Portugal não esteja, por exemplo, entre os países com mais jovens NEET, os nem-nem, que nem estudam nem trabalham. Turquia, México, Reino Unido, Áustria, Irlanda e França são os países que mais se destacam e, quando as idades sobem para 25 a 29 anos, a Grécia assume a liderança com 41% nesta situação.

“Para os jovens entre 20 e 29 anos, a falta de oportunida­des de emprego viáveis é o principal fator que desencoraj­a a sua participaç­ão no mercado de trabalho”, realça a OIT, acrescenta­ndo que a transição entre a educação e o emprego “tornaram-se mais difíceis”, impulsiona­ndo esta situação de desocupaçã­o.

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