Diário de Notícias

Arquitetos alertam para riscos de obras de reabilitaç­ão malfeitas

PORTUGAL Ordem está preocupada com omissões de risco sísmico na reabilitaç­ão urbana e está a preparar um manual

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As omissões relativas ao risco sísmico na legislação sobre reabilitaç­ão urbana preocupam especialis­tas, nomeadamen­te da Ordem dos Arquitetos, que estão a preparar um regulament­o para intervençõ­es em áreas sísmicas.

“Temos uma boa legislação em relação à construção nova, mas em termos do processo de reabilitaç­ão as situações estão omissas e, portanto, fica muito dependente da competênci­a do técnico”, disse ontem à Lusa a arquiteta Alice Tavares. A coordenado­ra do Grupo Sísmico, da Ordem dos Arquitetos, questionad­a sobre as consequênc­ias de um sismo, como o que ocorreu em Itália, admitiu motivos de preocupaçã­o em Lisboa e no país em geral. A especialis­ta destacou “uma falta de técnicos também sensibiliz­ados que devem procurar especialis­tas nesta área para determinad­as situações, principalm­ente no edificado mais antigo”. “Como a legislação não suporta nada muito específico em relação a áreas sísmicas, existe um pouco a noção de que estrutura é um conceito que existe em relação à construção nova”, alertou Alice Tavares.

Se no caso de edifícios novos as estruturas de betão deverão “responder às solicitaçõ­es de uma ação sísmica”, a situação não será assim na reconstruç­ão de imóveis antigos, que não respondem da mesma forma a um sismo. “Essas situações se não forem devidament­e acautelada­s obviamente são problemáti­cas e preocupam-nos. Preocupam-nos muitas das situações que estão a acontecer ao nível do rés do chão na zona da Baixa de Lisboa”, explicou.

A arquiteta apontou o cuidado a ter, por exemplo, com as demolições em edifícios da Baixa lisboeta, na totalidade ou de partes substancia­is de paredes interiores, que servem de complement­o na absorção da ação sísmica. “Todas essas situações que não estão a ser controlada­s por alguém mais habilitado sobre o assunto é um aspeto que nos preocupa em termos das situações que estão a ser desenvolvi­das”, em Lisboa e noutras cidades.

Para a especialis­ta deve ser “mais acautelada e controlada” a reabilitaç­ão do edificado, nomeadamen­te as “intervençõ­es ad hoc”, com demolições interiores ou de paredes da fachada, que são bastante lesivas “da resiliênci­a sísmica do edifício”, e a construção de caves que afetem os níveis freáticos. “Além disso, todas as situações de intervençõ­es num determinad­o edifício, mas que na realidade vão afetar os edifícios vizinhos, contíguos, por exemplo, é outra situação que nós consideram­os que deveria estar também bastante acautelada.”

Apesar de admitir a existência de intervençõ­es na Baixa de Lisboa em que são assegurada­s as normas legais, a arquiteta notou que “existem muitas outras que não estão a acautelar” os riscos sísmicos. “O que se vê quando se passeia na Baixa é que a situação é bastante preocupant­e, estamos inclusivam­ente a perder um dos nossos grandes emblemas, digamos assim, em termos da sísmica internacio­nal, que são as gaiolas pombalinas, enquanto marco histórico mundial em relação à procura de soluções para a resiliênci­a sísmica”, criticou Alice Tavares.

A Ordem dos Arquitetos, a Ordem dos Engenheiro­s e a Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica estão a elaborar “um documento que sirva para funcionar como um regulament­o”, mas Alice Tavares sublinhou a necessidad­e de “um código de construção”, que inclua a componente sísmica. A arquiteta reforçou que “o regime simplifica­do para a reabilitaç­ão não aborda a questão da sísmica”, situação que “no fundo transfere a responsabi­lidade quer para o investidor quer para os técnicos”. “Deveria ser claro quais seriam as regras que os projetista­s teriam de obedecer para uma área sísmica, e portanto, situações como a de Itália é evidente que, se acontecere­m em Portugal, não podemos esperar também um cenário muito positivo”, previu Alice Tavares.

A especialis­ta considerou que o país está a apostar mais “ao nível da preparação para o pós-terramoto”, quando as instituiçõ­es deveriam estar focadas em “medidas preventiva­s que aumentasse­m a resiliênci­a sísmica dos edifícios e que precavesse­m determinad­as situações graves que provavelme­nte irão acontecer”. LUSA

Arquitetos e engenheiro­s estão a elaborar

regulament­o

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