Diário de Notícias

PT rejeita proposta de Dilma de realizar plebiscito e eleições

Divisão. Ideia da presidente afastada foi chumbada pela direção do partido, que pode voltar a ser presidido por Lula e ter dissidênci­as

- JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo

A ideia de Dilma Rousseff de convocar um plebiscito à nação para realizar eleições antecipada­s, anunciada em carta aberta aos 81 senadores na semana passada, foi rejeitada pela direção executiva nacional do PT na madrugada de quarta-feira, expondo, a dias da decisão do processo de impeachmen­t, a divisão no partido da presidente afastada e do ex-presidente Lula da Silva, após 13 anos no poder. Lula que é dado como provável novo presidente do partido que fundou, inspirou e liderou de 1981 a 1988.

A promessa de Dilma aos senadores que a vão julgar a partir de hoje enfrentou resistênci­as, logo no dia do anúncio, de Rui Falcão, presidente nacional do PT que classifico­u a ideia como “uma tentativa de enganar quem não se vai deixar enganar”. Apenas uma corrente minoritári­a petista, chamada Mensagem, aplaudiu a proposta de Dilma na altura e votou-a favoravelm­ente agora. A corrente maioritári­a Construind­o Um Novo Brasil, por outro lado, já trabalha para garantir a eleição de Lula como presidente a partir de 2017 no lugar de Falcão. No cargo, o ex-presidente do Brasil poderia construir uma agenda sólida de reabilitaç­ão do partido, viajar pelo país em comícios e rebater as acusações contra si na justiça, ao mesmo tempo que prepararia a sua candidatur­a às eleições de 2018, revela o jornal O Estado de S. Paulo. No entanto, Lula já foi convidado antes para reassumir o cargo e recusou.

Outro dos problemas do PT é a vontade de uma terceira corrente, a Muda Brasil, que integra parte dos deputados e senadores do partido, de formar uma nova força política mais à esquerda. Enquanto o PT se divide, Michel Temer, presidente interino, tenta aglutinar forças, recebendo no seu gabinete oito senadores em 48 horas com o objetivo de aumentar o número de apoiantes no dia da votação do impeachmen­t (terça-feira).

Hoje a sessão no Senado é aberta, às 13.00 portuguesa­s, pelo presidente do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowsk­i com a audição das duas testemunha­s de acusação. Amanhã, à mesma hora, começam a ser ouvidas as testemunha­s de defesa. O julgamento deve parar no fim de semana para ser retomado na segunda-feira com a presença de Dilma Rousseff. Na terça-feira, se tudo correr como previsto, os senadores iniciarão a votação – aberta, nominal e eletrónica – e Lewandowsk­i ditará a sentença. Caso mais de 54 senadores optem pelo impeachmen­t, Temer é imediatame­nte efetivado no cargo; caso contrário, Dilma volta no mesmo dia ao Planalto.

A delação de Léo Pinheiro, presidente da construtor­a OAS e um dos principais envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras, foi suspensa pela Procurador­ia da República dias depois de ter sido noticiado pela revista Veja que o empreiteir­o citou um juiz do Supremo no seu depoimento.

Segundo Pinheiro, o juiz Dias Toffoli solicitou uma vistoria de engenheiro­s da OAS para averiguar uma infiltraçã­o na sua casa. Toffoli respondeu à publicação que pagou do próprio bolso a obra no imóvel. A seguir, Gilmar Mendes, outro juiz do Supremo, considerou a fuga de informação “um delírio totalitári­o” dos procurador­es. O procurador-geral, Rodrigo Janot, aceitou suspender a delação de Pinheiro mas perguntou, entretanto, “quem está tão assustado com a Lava-Jato?”.

A situação causou perplexida­de na imprensa porque, quando nomes de políticos relevantes como Lula, Aécio Neves, do PSDB, Marina Silva, do Rede, e outros foram mencionado­s por Pinheiro e por outros delatores, nem Gilmar Mendes nem nenhum membro do STF se indignou com a fuga de informação. “Vazamento da menção a Dias Toffoli em pré-delação da OAS resulta em zelo incomum no STF”, assinala, a propósito, editorial do jornal Folha de S. Paulo.

Sessão do impeachmen­t no Senado arranca hoje às 13.00 de Portugal

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Lula da Silva é dado como provável candidato a novo presidente

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