Diário de Notícias

O Cinema Ideal faz dois anos e oferece 21 sessões grátis

Pedro Borges, o proprietár­io, diz que é um privilégio “dar cabo da vida desta maneira”. O cinema está em festa até ao fim do mês

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A Rua do Loreto voltou a ter cinema, com muitos filmes portuguese­s

RUI PEDRO TENDINHA Dia 28 de agosto de 2014. A data em que o centro de Lisboa voltou a ter cinema, o Cinema Ideal, no Chiado. Uma sala com balcão, café e uma salão com livraria. Dois anos depois festeja-se o aniversári­o a partir de hoje e até ao final do mês. Um programa de festas que inclui cinema grátis e uma amostra daquilo que de melhor a Midas Filmes programou nesta sala que antes projetava filmes pornográfi­cos.

Ao todo serão 21 sessões com entrada livre e o destaque é mesmo domingo, o dia do aniversári­o, onde às 18.45 será projetado um filme surpresa em antestreia. Nesse domingo em que JP Simões toca, também com entrada livre, no Salão Ideal, e onde há bebidas para um brinde aos cinéfilos que se quiserem juntar. São dois anos em que Pedro Borges, o homem forte da Midas, programou cinema de autor de todo o mundo, com especial relevância para o que se fez em Por- tugal. E é ele próprio que nos conta estar contente com o balanço: “Fizemos uma coisa que ninguém acreditava que fosse possível acontecer: reabrir um cinema podre no centro de Lisboa. Fizemo-lo sem quaisquer apoios públicos e com um projeto de arquitetur­a (duas vezes premiado) e equipament­o, da melhor qualidade existente (e um investimen­to colossal e puramente inconscien­te). Pior do que isso, apesar da política de apoio ao cinema em Portugal estar capturada por interesses e negócios escuros, continuamo­s a funcionar. Mas, muito melhor do que isso, mostrámos em dois anos 35 – sim, trinta e cinco – filmes portuguese­s e algum do melhor cinema do mundo.”

Em semana de aniversári­o, o filme “cubano” de Laurent Cantet, Regresso a Ítaca, tem exibição com desconto. Para breve, o Ideal anuncia já obras de fôlego como O Cheiro a Nós, de Larry Clark, Se as Montanhas Se Afastam, de Jia Zhang-ke, ou o belíssimo Vergine Giurata, de Laura Bispuri.

Pedro Borges olha para o futuro com vontade de repetir o que foi feito: “Vamos continuar com a corda na garganta, tentando encontrar os apoios – públicos e privados – que permitam amortizar o investimen­to que fizemos. No pouco tempo que disso sobra, vamos tentar inverter a política pública de apoios ao cinema e continuar a fazer a única coisa que sabemos fazer: mostrar o melhor cinema, os melhores filmes do mundo. É um enorme privilégio dar cabo da vida nisto.”

O que é facto é que se trata de uma sala aberta a mais distribuid­ores para além da Midas. Aberta também aos festivais de cinema de Lisboa e a eventos singulares (como foi a exibição única de As Portas do Céu, de Michael Cimino, aquando do seu desapareci­mento). Para a semana, é a vez de Ivo M. Ferreira e o seu belo Cartas da Guerra tentarem repetir o bonito efeito que foi a reposição de Barry Lyndon, o último sucesso deste cinema de bairro. Até ao fim de setembro, sempre às quintas-feiras, o Ciclo Mundos está no Teatro da Trindade Inatel. Trata-se de uma extensão do Festival Músicas do Mundo, que hoje apresenta o concerto dos Songhoy Blues. Considerad­os a mais recente revelação dos blues do Mali, esta banda de jovens músicos inspira-se na cultura da etnia Songhoy, que vive nas margens do rio Níger, misturando instrument­os tradiciona­is e melodias do deserto com o som das guitarras elétricas.Vêm apresentar o álbum de estreia Music in Exile, gravado no ano passado, depois de terem sido descoberto­s pelo produtor francês Marc-Antoine Moreau, quando este procurava novos músicos para o projeto Africa Express, de Damon Albarn.

E até ao final do ciclo ainda são muitos mais os que vão apresentar-se no palco do teatro lisboeta. São eles a dupla composta pelo iraniano Kayhan Kalhor e o maliano Toumani Diabaté (dia 8 de setembro), os brasileiro­s Metá Metá (dia 15) e os ucranianos DakhaBrakh­a (dia 22). “Todos estes nomes têm a música tradiciona­l como ponto de partida para uma renovação, não só misturando culturas como criando um elo de ligação entre o passado e o futuro”, diz ao DN o presidente do conselho de administra­ção do Inatel, Francisco Madelino, para quem este ciclo “tem como objetivo estimular todos aqueles que praticam e defendem a cultura popular nas suas mais variadas formas”.

Foi dele que partiu a ideia de desafiar a Câmara de Sines, organizado­ra do Festival Músicas do Mundo, para esta parceria. “É um ciclo que pretendemo­s ver associado à ideia da diversidad­e cultural e de inserção das minorias, porque a música é como uma linguagem do esperanto, com uma militância muito própria”, defende o dirigente, dando em seguida como exemplo o próprio público de Sines: “Sempre muito

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