Diário de Notícias

Telma foi a mais aclamada em receção discreta aos atletas

Os atletas que ficaram no Brasil até ao fim regressara­m ontem a Portugal, com um misto de satisfação e desejo de mais e melhor. Presidente do COP assume responsabi­lidades

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JOÃO RUELA A receção aos atletas olímpicos portuguese­s esteve longe de ser apoteótica. Os cerca de 30 atletas que ficaram até ao final dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro chegaram ontem de manhã ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, aplaudidos por algumas dezenas de adeptos e com Telma Monteiro a centrar atenções, uma vez que trazia ao pescoço a única medalha conquistad­a por Portugal no Brasil.

“Estou muito satisfeita. Ia com grandes expectativ­as de conseguir vencer as adversidad­es, trazer uma medalha e estou feliz por ter chegado a Portugal e ter conseguido”, começou por dizer a judoca, que conquistou o bronze em -57 kg.

A judoca do Benfica, detentora de cinco títulos europeus e quatro vicetítulo­s mundiais, recordou que sofreu uma lesão que condiciono­u a sua preparação para os Jogos Olímpicos, motivo pelo qual a medalha de bronze acabou por ter um sabor mais dourado. “Não há limites. Eu sempre pensei que não há limites depois da lesão e de ter sido operada. Tinha os meus receios e as minhas dúvidas, mas prevaleceu a coragem e isso deve ser um exemplo até ao fim”, realçou.

À espera de Telma estava um adepto especial: José, 92 anos, transporta­va uma bandeira de Portugal e abraçou-se, com visível emoção, à oitava classifica­da da hierarquia mundial de judo, tendo deixado um pedido: “Veja lá se consegue chegar à minha idade.” Telma sorriu e admitiu que “vai ser difícil”, numa altura em que ainda não pensa em metas para os Jogos Olímpicos de Tóquio.

“Os próximos tempos vão ser passados a descansar e a avaliar a situação do ombro. Ainda é cedo para falar num objetivo concreto. Quero continuar a ganhar medalhas em Europeus, Mundiais e trazê-las para Portugal, que isso é muito importante. Depois disso é conseguir o apuramento para Tóquio”, definiu. Críticas às críticas Além da medalha de bronze de Telma Monteiro, Portugal conseguiu dez diplomas olímpicos e 15 classifica­ções

Telma Monteiro e um adepto especial... de 92 anos entre os 16 primeiros lugares. Em termos de resultados, foi a segunda melhor participaç­ão lusa na história dos Jogos Olímpicos.“Os outros resultados foram muito bons, de excelência. Acredito que todos vão continuar a trabalhar e a superar as críticas, mesmo as destrutiva­s”, apontou Telma.

José Manuel Constantin­o, presidente do Comité Olímpico de Portugal, já tinha admitido que os resultados ficaram aquém das expectativ­as, desta vez realçando que houve alguma falta de competênci­a. “No plano desportivo, os resultados, em termos globais, ficaram aquém daquilo que nós [COP] tínhamos estimado. Faltou sermos mais competente­s e podermos aproximar-nos daquilo que é o valor desportivo desta missão”, lamentou. Ainda assim, o líder presidente do COP assumiu responsabi­lidades pela falta de mais medalhas. “Se há alguém que tem de ser responsabi­lizado pelos resultados desportivo­s da nossa missão sou eu. Assumo na plenitude essa circunstân­cia”, admitiu.

Por seu turno, a ex-campeã olímpica Rosa Mota disse estar satisfeita, ainda que depois tenha admitido alguma tristeza por só Telma Monteiro ter obtido a medalha. “Saio muito satisfeita. O ambiente foi muito agradável e é pena a medalha da Telma vir sozinha”, disse a vice-presidente do COP, com palavras de lamento em particular para Sara Moreira – desistiu na maratona.

“Não há nenhum atleta que esteja em prova que goste de desistir. Quando desiste é porque não tem mesmo condições para continuar. A desistênci­a marca muito o atleta e ninguém gosta”, disse a vencedora da medalha de ouro em Seul, em 1988. Rosa Mota reconheceu ainda que “os atletas vêm tristes e frustrados porque não conseguira­m realizar os seus sonhos e objetivos”, desejando que no médio prazo as coisas melhorem.

Mas para isso, o velejador Jorge Lima voltou a deixar o apelo. “É difícil competir. As nossas modalidade­s não têm o apoio que outros atletas têm no estrangeir­o”, criticou Lima, que fez dupla com José Costa e terminou a classe 49er no 15.º lugar. Resultados que, para o próprio, são de “topo mundial”, mas que não atenuam a preocupaçã­o: “Posso dizer que, apesar destes resultados, no próximo mês já não temos salário e estamos fora do projeto olímpico.”

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