Tudo sobre o impeachment a Dilma, que arranca hoje
impeachment
Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, a “grande mídia brasileira”, como é chamada, é acusada pelo PT de “patrocinar o golpe”. Os media internacionais, de uma maneira geral, tomaram partido por Dilma, principalmente depois de, entre o riso e o choque, assistirem à votação do impeachment na Câmara.
José Eduardo Cardozo
› O advogado de defesa da presidente destacou-se pela retórica no duelo de argumentos no Congresso. Os senadores Gleisi Hoffman e Lindbergh Farias, do PT, e Vanessa Grazziotin, do PC do B, completam o quarteto de cães de guarda da presidente. Hoffman está fragilizada pela detenção, por corrupção, do seu marido, o ex-ministro de Dilma Paulo Bernardo.
Kátia Abreu
› Do PMDB e defensora dos latifundiários em detrimento de causas mais cool como a questão indígena ou a ecologia, tinha tudo para ser anti-Dilma. Porém, apesar da indicação do seu partido – que é o de Temer –, vota contra o impeachment ea favor da sua improvável amiga.
Lula
› Nem nos mais terríveis dos seus pesadelos imaginou um 2016 assim: o PT a dias de voltar à oposição, 13 anos depois, e sob a espada da Lava-Jato, operação liderada pelo seu neoinimigo Sérgio Moro.
Moro
› Lava-Jato é uma coisa, impeachment é outra? Nem tanto. Dilma e Lula foram atingidos nas vísceras quando o juiz autorizou a divulgação de um telefonema entre ambos a meio do processo. Mas outras escutas derrubaram três ministros de Temer.
“Não vai ter golpe!”
› O slogan que milhares de manifestantes anti-impeachment popularizaram perdeu força com a evolução dos acontecimentos. Hoje é mais comum ouvir-se “fora Temer” – se bem que nos Jogos Olímpicos os cartazes com a expressão tenham sido proibidos.
Oposições
Com dois presidentes, quem é oposição? Os oponentes da afastada ou os rivais do interino? Para distinguir, uns são a “nova oposição” e outros a “velha oposição”. A nova é o PT e os seus satélites de esquerda, a velha é o PSDB e os seus satélites de direita. Sobra, claro, o centrão, os partidos que estão sempre no poder – PMDB à cabeça.
Pedaladas fiscais
› Dilma é acusada de crime de responsabilidade por três decretos de créditos sem a autorização do Congresso e pela prática de manobras contabilísticas, as tais “pedaladas fiscais”. Para a acusação, esses atrasos configuram operações de crédito com instituições financeiras que controla, o que é proibido por lei. Para a defesa, não houve dolo.
Quitação das pedaladas
› Em dezembro de 2015, Dilma pagou todas as dívidas que tinha contraído nas pedaladas – operação conhecida como “quitação das pedaladas”. No total, o governo transferiu 55,8 mil milhões de reais para os bancos seus credores. O programa social Minha Casa, Minha Vida foi a razão dos atrasos.
Ruy e Raquel Muniz
› A votação do impeachment na Câmara revelou aberrações, como a deputada do PSB que, estridente, votou pelo seu marido: “Pelo meu marido, prefeito de Montes Claros, voto sim, sim, sim, sim.” No dia seguinte, o prefeito de Montes Claros foi preso por fraudar hospitais públicos da cidade em benefício do hospital particular gerido pelo casal.
Senador
› É membro do PMDB, pertence a um clã milionário de um estado pobre, tem familiares em cargos públicos, negoceia com gado, dispõe de concessões de radiodifusão, enfrenta processos em tribunal, é homem, branco e está na faixa dos 50 anos. Eis o “senador-tipo” que vai julgar Dilma, segundo o site Excelências.
“Tchau, querida”
› O telefonema entre Dilma e Lula em que combinavam a tomada de posse do segundo como ministro da primeira terminou com uma despedida que entrou na história: o “tchau querida” de Lula tornou-se uma espécie de “não vai ter golpe” mas ao contrário.
Ustra
› O deputado ultraconservador Jair Bolsonaro, pré-candidato à presidência da República pelo PSC, dedicou o seu voto pelo impeachment a Brilhante Ustra, o mais conhecido dos torturadores militares. “Era o terror da Dilma”, disse.
Votações
› A 15 de abril, na Câmara: 367 deputados pelo impeachment, 137 contra, sete abstenções, duas faltas. A 12 de maio, no Senado: 55 senadores pela destituição, 22 contra, uma abstenção, quatro faltas. Já no dia 8,59 declararam-se a favor de constituir Dilma ré, 21 foram contra e um absteve-se. São necessários 54 votos, em 81, para a derrubar.
Wyllys
› Deputado identificado com a defesa das minorias LGBT, Jean Wyllys, do PSOL, respondeu a insultos de Bolsonaro durante o seu voto contra a destituição de Dilma com uma cuspidela, noutro dos momentos altos – ou baixos – da grotesca votação de 15 de abril.
Xeque
› O xeque-mate de Michel Temer a Dilma Rousseff está marcado para terça-feira. Mas o xeque à rainha foi dado ainda em julho de 2015 quando o então vice afirmou que o país precisava de uma pessoa que o pacificasse. Hoje não há dúvidas: referia-se a si próprio.
Youssef
› No pedido de impeachment, o nome do delator original da Operação Lava-Jato, Alberto Youssef, é citado. Para Bicudo, Janaína e Reale, subentende-se do depoimento do intermediário que as realizações do governo Dilma na Petrobras eram, afinal, um meio para sangrar a empresa.
Zezé Perrella
› Entre os senadores que vão julgar Dilma estão Aécio, Collor, a dissidente petista Marta Suplicy, o ministro do Planeamento demitido Romero Jucá, o maior produtor de soja do mundo Blairo Maggi, o cantor de pagode gospel Magno Malta, o sobrinho de Edir Macedo, bispo Marcelo Crivella, o rei da grande área Romário e Zezé Perrella, cujo helicóptero foi apreendido em 2013 com 400 quilos de cocaína.