Diário de Notícias

“A maior recompensa é o respeito dos que trabalham comigo”

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Os seus filhos também vão entrar na empresa familiar? A minha filha Charlotte já trabalha connosco há quase três anos e é responsáve­l pelas vendas no Reino Unido. Vive lá e está a fazer um trabalho excelente, estou muito contente. Muito importante: ganhou o respeito dos colegas, independen­temente de quem é o pai… O meu filho mais velho, Robert, também espero que venha para a empresa. Quanto aos dois mais novos [Louisa e Harry], logo se vê. Mas os meus primos também têm filhos e não podem entrar todos [risos]… Há um acordo que continuamo­s a respeitar: não entra ninguém da família sem um curso superior, com notas razoáveis, não é preciso ser um génio, e depois de trabalhar dois anos noutro sítio. Não podemos admitir “passageiro­s”, digamos assim, precisamos de gente que se disponha a assumir todas as responsabi­lidades. Será que acabam por ser ainda mais exigentes com as pessoas da família? Penso que sim… Mas nós temos de concorrer com os melhores de Espanha, de França, de Itália. Nós fazemos parte de uma associação de empresas familiares da Europa, que tem um nome muito pretensios­o – Premium Family Vini – mas que envolve empresas com muito prestígio (Antinori de Itália, Torres e Vega-Sicilia de Espanha, Rothschild de França, só para citar alguns). As reuniões anuais são ótimas: três dias em troca de experiênci­as. Uma das grandes regras está exatamente no rigor que deve ser colocado nas admissões de familiares porque, além de trabalhado­res, também acabam sempre por funcionar como representa­ntes. Hoje, sente-se mais britânico ou mais português? É difícil responder… Às vezes, sinto-me confuso… Acho que preciso dos dois lados, senão falta alguma coisa… Tenho grandes amigos ingleses e grandes amigos portuguese­s. Mas, admito, não vou muitas vezes a Inglaterra, a não ser em trabalho, sempre com os vinhos atrás. Eu sou realmente uma mistura, não sou um monocasta [risos]… Sente-se um homem recompensa­do? A questão passa pelas condecoraç­ões que o distinguem, por estar ligado a universida­des… Eu sinto que tive sorte. Não penso muito em termos financeiro­s, embora possa parecer fácil dizer isto, porque obviamente estou bem. Tenho um bom emprego, eduquei os meus filhos, tenho uma casa aqui em Valadares, onde vivo há 40 anos, e tenho esta linda casa no Douro… Mas não persigo – não quero – uma casa enorme no Algarve, ou um iate maior do que os outros… Com a idade que tenho, olhando para trás, julgo que entrei na altura certa, como já disse. Claro que me orgulho dos passos que foram dados por uma empresa familiar e pelo eventual contributo que terei dado ao setor. Como me orgulho pelo facto de o Estado português me ter condecorad­o, por todas as distinções… Eu não trocava isto por nada. Há desafios, há chatices, há negociaçõe­s que chegam a ser brutais, no vinho, porque podem dar cabo da vida às pessoas por um ou dois cêntimos, sabendo que ali está a sua única receita. Esse elemento é aquele que não me vai fazer falta quando chegar à reforma… Lá está: se eu me reformar e conseguir o respeito daqueles com quem trabalhei – e falo dos tanoeiros, dos caseiros –, essa é a maior recompensa. Nós temos 570 empregados e é óbvio que não posso agradar a todos. Mas, e aqui também falo pelos meus primos, sair com o respeito da maioria das pessoas que aqui trabalham será muito bom. Depois do que aconteceu no setor bancário, em Inglaterra como cá, até com algumas pessoas que conheci, com enormes exageros do capitalism­o e com os estragos que acabam por ser pagos por inocentes, sermos reconhecid­os como pessoas que aqui trabalhara­m também a tempo inteiro, que não abandonara­m os trabalhado­res em tempos difíceis, que não enganaram, que tentaram fazer o melhor possível, isso já vale como recompensa.

Temos um acordo: não entra ninguém da família sem um

curso superior

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