Diário de Notícias

“PARECE QUE ANDAM UNS A JUNTAR COM O BICO E OUTROS A ESPALHAR COM AS PATAS”

Líder da bancada comunista criticou bloquistas por antecipare­m novo imposto só para ter créditos. Ex-coordenado­r do BE lamenta que PCP junte a “sua voz à gritaria da direita”

- JOÃO OLIVEIRA NO JORNAL AVANTE!

Da “candidata engraçadin­ha” à tentativa de “chamar a si os créditos” das medidas, as bicadas do PCP ao Bloco continuam.

Líder da bancada comunista garante que “não há mal-estar”. João Semedo lamenta que PCP “junte a voz à gritaria da direita”

No dia em que governo, PS, BE, PCP e PEV alinharam argumentos muito idênticos para atacar as bancadas do PSD e CDS e para defender o caminho a seguir no próximo Orçamento do Estado, a divulgação de um texto do líder parlamenta­r comunista, João Oliveira, cheio de bicadas aos bloquistas foi uma patada no equilíbrio da geringonça.

João Oliveira criticou no Avante!, órgão oficial do PCP, a forma como foi divulgado o novo imposto sobre património de luxo, num texto cujo título é “juntar com o bico e espalhar com as patas”. “Uma ideia que podia vir a ser uma boa proposta fiscal foi imediatame­nte transforma­da num alvo de todo o tipo de bombardeam­ento especulati­vo”, escreveu a abrir o comunista.

Logo a seguir acrescento­u que “ao anunciar a criação de um imposto cujos principais elementos estavam ainda em discussão – in- cluindo entre o PCP e o governo –, o BE procurou, uma vez mais, antecipar-se no anúncio de uma medida de forma a chamar a si os créditos pela aprovação daquilo que não depende apenas da sua vontade ou intervençã­o”. O deputado rematou o artigo de opinião com aquilo que defende o PCP, usando uma das expressões populares a que recorre frequentem­ente (ele e Jerónimo de Sousa) para melhor retratar as suas críticas: “Ainda que às vezes pareça que andam uns a juntar com o bico e outros a espalhar com as patas...”

Foi o próprio João Oliveira quem desvaloriz­ou ao DN as críticas que fez no texto. “O que se quis dizer é aquilo que ali está, nada mais”, explicou-se. Para logo acrescenta­r que “não há mal-estar com o BE”.

Entre os bloquistas, ninguém quis comentar oficial ou oficiosame­nte o texto. Só João Semedo – que foi coordenado­r do partido e hoje não tem cargos dirigentes – assumiu ao DN que este caso não abrirá nenhuma brecha na maioria parlamenta­r de esquerda. “O estilo é recorrente e o texto não vale o incómodo sequer. Se abrir brechas, só se for entre o PCP e os seus eleitores que dificilmen­te compreende­rão que João Oliveira tenha escolhido este momento para acrescenta­r a sua voz à gritaria da direita.”

Não é de agora a tensão e competição entre os dois partidos. Quando depois das eleições legislativ­as de outubro de 2015 se desenhou uma solução à esquerda, a assinatura dos acordos entre PS, BE, PCP e PEV foi feita na mesma sala, mas sem qualquer foto de família. Cada um entrou à vez numa sala dos socialista­s e não houve declaração conjunta. Mesmo os textos assinados entre o PS e BE e o PS e PCP (e PEV ) têm conteúdos diferentes.

É nessas “posições conjuntas” (o nome dado aos acordos) que socialista­s e bloquistas acertaram a criação de grupos de trabalho sobre várias áreas e foi de um deles, o da política fiscal, que nasceu a proposta do imposto de património de luxo. O governo (e o PS) vai reunindo, também à vez com BE e PCP (e PEV ) e concertand­o as posições entre todos, seja para o trabalho parlamenta­r, seja para o próximo Orçamento.

No dia-a-dia, os choques são frequentes. Na noite das eleições presidenci­ais, em janeiro, o secretário-geral do PCP agastado com o mau resultado do candidato comunista, lançou uma farpa à bloquista Marisa Matias. “Podíamos arranjar uma candidata mais engraçadin­ha e com um discurso mais populista.”

A 14 de setembro, foi o deputado comunista Miguel Tiago quem se atirou ao BE por causa do glifosato. A tentativa de proibir este herbicida suspeito de ser cancerígen­o esbarrou nos votos da direita e dos comunistas. Os bloquistas não gostaram e Miguel Tiago respondeu à letra. “Na sua estratégia de isolar constantem­ente o PCP, o glifosato foi um eficaz produto.” Afinal, a pouca química entre os dois não é de agora, com mais ou menos patas a espalhar.

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 ??  ?? Depois das eleições de outubro de 2015, eram muitos os sorrisos entre BE e PCP. A química entre os dois já foi melhor
Depois das eleições de outubro de 2015, eram muitos os sorrisos entre BE e PCP. A química entre os dois já foi melhor

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