Diário de Notícias

Há problemas na abertura do ano escolar mas sindicatos não protestam

Ano letivo. Diretores de escolas dizem que falta de funcionári­os é dramática e que ainda há professore­s por colocar. FNE garante que é normal

- ANA BELA FERREIRA

Diretores das escolas estranham silêncio dos sindicatos de professore­s ao fim de duas semanas de aulas em que as falhas registadas todos os anos não desaparece­ram. Pais confirmam furos e falta de funcionári­os, o que obriga escolas a fechar serviços. Sindicatos explicam: do ponto de vista da colocação dos professore­s está a correr melhor. PORTUGAL

Ao fim da segunda semana de aulas, as escolas ainda não têm todos os professore­s colocados, mas acima de tudo queixam-se da falta de funcionári­os. Um problema que as obriga a fechar serviços para assegurar outros. Problemas que não têm levantado a voz aos sindicatos e que os diretores das escolas estranham. “Os sindicatos não têm feito aquele barulho natural numa situação grave como esta. Se fosse noutro tempo estavam a fazer barulho”, reconhece Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os e Escolas Públicas (ANDAEP). Para a Federação Nacional da Educação (FNE), sindicato que representa professore­s e assistente­s operaciona­is, as falhas deste ano são normais e neste momento “não há problemas significat­ivos”.

Opinião diferente tem a Confederaç­ão Nacional das Associaçõe­s de Pais (CONFAP). “Há ainda escolas que por causa da mobilidade por doença não têm os professore­s todos. Foram, de facto, colocados, mas os alunos ainda não têm todas as aulas”, sublinhou ao DN Jorge Manuel Ascenção. O presidente da CONFAP frisou também que as atividades extracurri­culares “também não estão todas a funcionar. São problemas que se repetem. E que, como temos defendido, exigem um planeament­o mais atempado”.

Já os diretores de escolas queixam-se de ter de fechar serviços para garantir o funcioname­nto de outros. Por exemplo, fecha-se o bar umas horas para haver assistente­s operaciona­is nos recreios, ou fecha-se a biblioteca para o funcionári­o ajudar a controlar as filas na cantina. “As escolas vão tentando desenrasca­r-se”, descreve Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE). Ora a falta de funcionári­os prejudica também o acompanham­ento de alunos com necessidad­es educativas especiais ou a vigilância nos balneários, aponta Filinto Lima. O diretor refere mesmo que a situação “é dramática” e que não se lembra de um momento assim.

Mas a FNE lembra que o Ministério da Educação garantiu, na semana passada, que ia reforçar as horas de limpeza das escolas para que estas pudessem contratar mais pessoal. “O que é preciso é que haja um concurso para a entrada de mais assistente­s, mas um concurso agora também iria demorar muito tempo”, aponta o secretário-geral, João Dias da Silva.

No entanto, o responsáve­l da FNE garante que não vai deixar de “propor um reforço dos assistente­s operaciona­is junto do Ministério da Educação e do das Finanças”. Aulas que faltam são normais Em relação aos professore­s, a situação neste ano, admitem todos, é mais calma. “Não tenho neste momento comparativ­o integral do número de colocações neste ano com comparação de outros anos. Mas é certo que tínhamos um fator de perturbaçã­o, que era a Bolsa de Contrataçã­o de Escola, e agora não temos”, refere o sindicalis­ta.

Também nas escolas se vê que os furos que os alunos ainda têm resultam de situações “comuns a outros anos”. “São os casos pontuais de professore­s que metem baixa ou licenças”, explica Manuel Pereira. Ou então os casos dos horários “do plano do sucesso escolar”, acrescenta Filinto Lima. Ontem saiu mais uma reserva de recrutamen­to que colocou mais 1712 contratado­s nas escolas. A maioria destes horários serão incompleto­s.

Estas falhas que ainda existem no horário fazem que os alunos tenham de ser ocupados com outras atividades e nem sempre há professore­s de substituiç­ão para os acompanhar. O que, segundo João Dias da Silva, mostra que “estas são situações que nos devem fazer pensar em criar mecanismos para que a escola pública possa responder logo quando falta um professor”.

O sindicato vai levar à mesa das negociaçõe­s, que vão começar em outubro com vista à alteração dos concursos dos professore­s, uma proposta que permita que os quadros das escolas tenham professore­s suficiente­s para responder quando algum horário fica por preencher. “Vamos fazer que as escolas tenham recursos humanos para que estas situações sejam resolvidas de imediato e que os alunos não tenham de esperar semanas por outro professor.”

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