“Utentes só vão ver melhorias nos transportes dentro de 12 a 18 meses”
É o responsável pelos transportes públicos, setor para o qual promete melhorias mas que levarão tempo. E, para já, os utentes têm razões de sobra para reclamar, diz
A que se deve a perda de passageiros nos transportes públicos? Importa ter presente que há uma travagem na perda agravada de passageiros que vinha a verificar-se desde 2011 e que neste último ano já começámos a inverter a tendência. O problema da perda de utentes nos transportes públicos ocorre desde há muitos anos devido a múltiplos fatores económicos, sociais, culturais e políticos. A partir de 2011, com o aumento do desinvestimento no setor, a redução da oferta e os aumentos muito significativos dos títulos de transporte, houve uma queda ainda mais abrupta de passageiros. E a subida de custos? Entre janeiro de 2011 e fevereiro de 2012, o governo decretou, sucessivamente, três aumentos médios nos transportes: 4,4%, 15% e 5%. Em 2012, nas empresas públicas e com contrato de concessão (CP, ML, Carris, TT, SL, FT e MTS) que operam na AML, verificou-se uma perda de 16,56% de passageiros. Transporta- ram em 2015 menos 166 milhões de passa- geiros do que em 2010 (menos cerca de 28%). Esta significativa perda de passageiros ocorre, em simultâneo, com uma redução da utilização do transporte individual. Pode dizer-se que a população, nestes anos de crise, perdeu mobilidade. Maior culpa da supressão de horários e de transportes? Houve uma redução significativa da oferta , reduzindo também a atratividade do sistema, agravando a espiral negativa. Se a oferta não responder às necessidades de deslocação das pessoas, na primeira oportunidade escolherão outra solução. Se os transportes não chegam a horas, há uma elevada incerteza quanto ao cumprimento dos serviços e se os percursos aumentam pela redução de carreiras (mais tempo da viagem), naturalmente que estes fatores se repercutem na procura. Mas qual é o principal problema dos transportes: o preço dos bilhetes ou o mau desempenho? Não é possível isolar e determinar de forma absoluta qual é o fator que determina o abandono do transporte público. Para este contribuem, também, a errada perceção dos reais custos sociais da utilização do transporte individual e as políticas de ordenamento do território e de gestão do espaço público. Os preços e a oferta são variáveis relevantes na escolha da solução de deslocação. Mil queixas por mês é a média das reclamações na Deco. Os utentes têm razão? Têm toda a razão. O incumprimento de horários, a supressão de serviços e as avarias constantes são alguns dos motivos dessas reclamações. Por outro lado, tem de haver uma melhoria na qualidade de informação e atendimento ao público. Sendo o primeiro contacto do passageiro com o sistema, há que o melhorar rapidamente. O que está a ser feito para inverter a situação? É uma pergunta que deverá ser dirigida a diversos destinatários. Parte das importantes empresas de transportes na AML são operadores públicos que estiveram, aliás, em vias de ser privatizadas e, por isso, deixadas à sua sorte. A AML tem projetos concretos e iniciativas próprias para os próximos dezoito meses. Destacam-se o reforço operacional da AML enquanto Autoridade de Transportes; a aprovação de um novo sistema tarifário integrado; a nova metodologia de cálculo das compensações financeiras e de repartição de receitas entre operadores; a realização de estudos; a avaliação da rede de transportes, fiscalização e monitorização da qualidade dos serviços de transporte. Quando é que os utentes poderão esperar melhores serviços? As melhorias serão graduais. Os problemas só começarão a ter reduções visíveis e perenes para os utentes dentro de cerca de doze, dezoito meses.