Diário de Notícias

O motivo da importânci­a da investigaç­ão no domínio da defesa europeia

- JORGE DOMECQ Diretor executivo da Agência Europeia de Defesa

Ainvestiga­ção é importante. Vejamos um exemplo: o projeto Galileu. Em 2003, a União Europeia e a Agência Espacial Europeia acordaram lançar este ambicioso projeto. Inspirado pelo génio de um dos melhores pensadores da Europa, o projeto Galileu pretendia conduzir a Europa até ao topo do mercado de navegação global por satélite, com um valor de 175 mil milhões de euros. Pretendia também beneficiar os utilizador­es e serviços europeus, impulsiona­ndo a inovação e criando emprego. As suas aplicações são espantosas, abrangendo desde serviços de procura e resgate até investigaç­ão científica e serviços de posicionam­ento (GPS), como os usados nos setores automóvel, marítimo e da aviação e ainda no tráfego de peões. O projeto Galileu assegura que a Europa é independen­te no seu acesso a transmissõ­es satélite. Implementa­r o programa não foi fácil de um ponto de vista político ou económico. Mas as vantagens – inovação, capacidade­s, emprego, cresciment­o e independên­cia – justificar­am o esforço. O projeto Galileu demonstrou o que é de facto o trabalho de equipa: trata-se de explorar pontos fortes de elementos individuai­s para atingir objetivos comuns. Esta receita de sucesso deve ser agora aplicada à defesa europeia.

Presenteme­nte, a União Europeia enfrenta uma profusão de desafios. O crescente ceticismo relativame­nte aos seus objetivos, a incerteza financeira e as ameaças à sua segurança requerem um debate fundamenta­l sobre o futuro de uma Europa forte. Num questionár­io realizado em toda a Europa1, 82% dos inquiridos confirmam querer um maior envolvimen­to da União Europeia na luta contra o terrorismo; 66% querem que a União seja mais interventi­va na política de segurança e defesa. A recentemen­te publicada Estratégia Global Europeia destacou as cada vez mais indefinida­s linhas entre a segurança interna e externa. A defesa não vive numa bolha. Está indissocia­velmente associada à segurança e prosperida­de. Assim, a Europa necessita de ser um fornecedor de segurança fiável dos seus parceiros, protegendo simultanea­mente os seus cidadãos.

Para atingir este objetivo, a defesa já não pode ser considerad­a simplesmen­te de uma perspetiva nacional. A cooperação na defesa não é um conceito abstrato. Tal como o projeto Galileu, a defesa europeia é mais forte do que a soma das suas partes. Isto significa uma maior cooperação na inovação de defesa, em capacidade­s pioneiras, na investigaç­ão e tecnologia. E tem de acontecer agora.

Após uma intervençã­o dos líderes europeus, a Comissão Europeia propôs recentemen­te investir 90 milhões de euros na investigaç­ão no domínio da defesa entre 2017 e 2019. Este valor pode ser modesto quando comparado com a última iniciativa de inovação no domínio da defesa dos EUA de 18 mil milhões de dólares ou mesmo com o programa Galileu, que requer um investimen­to de aproximada­mente 5 mil milhões de euros. Mas, é um começo, e muito importante. É também, para a UE, uma revolução. Pela primeira vez na sua história, a UE está a pavimentar o caminho através da intitulada Ação Preparatór­ia para um substancia­l programa de investigaç­ão no domínio da defesa na próxima estrutura financeira multianual. Isto significa usar o orçamento da UE para a defesa, algo que era impensável tão recentemen­te como há três anos!

Os programas de capacidade­s atribuídos à Agência Europeia de Defesa são um início, mas temos de considerar o desenvolvi­mento mais a longo prazo se pretendemo­s manter a capacidade da Europa de ser um fornecedor de segurança credível que se baseia em tecnologia­s pioneiras e de vanguarda. E precisamos de o fazer agora. O desenvolvi­mento de capacidade­s é demorado. Utilizar o orçamento da UE para Investigaç­ão e Tecnologia no domínio da defesa não deve, de forma alguma, substituir esforços nacionais, mas irá ajudar a gerar massa crítica, a criar uma rede de entidades de investigaç­ão europeias e, mais importante, a aumentar a interopera­bilidade e os padrões. Além disso, sabemos que a investigaç­ão no domínio da defesa tem efeitos concretos e contagiant­es a nível de rentabilid­ade no quotidiano como a internet ou o GPS.

A Investigaç­ão e Tecnologia não são um capricho. São um pré-requisito essencial para desenvolve­r as capacidade­s do futuro e, consequent­emente, zelar pela segurança dos cidadãos. Também apoia a autonomia estratégic­a da Europa, impulsiona a sua indústria, cria emprego e estimula o cresciment­o. O compromiss­o das instituiçõ­es europeias, Estados membros e da indústria é necessário para concretiza­r os objetivos propostos. Mas, uma Ação Preparatór­ia totalmente ativada e adequadame­nte alicerçada constitui uma oportunida­de que não podemos perder. Será solicitada ao Parlamento e Conselho Europeu da EU a aprovação deste passo crucial durante as suas decisões relativas ao orçamento. Espero sinceramen­te que a decisão seja positiva.

1Eurobaróm­etro Especial do Parlamento Europeu, publicado em junho de 2016: http://www.europarl.europa.eu/atyourserv­ice/en/20160623PV­L00111/Europeansi­n-2016-Perception­s-and-expectatio­ns-fight-against-terrorisma­nd-radicalisa­tion

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