Diário de Notícias

Polícia Judiciária tem mil investigaç­ões de cibercrimi­nalidade

Ataques. Yahoo anunciou que contas de e-mail de 500 milhões de pessoas foram pirateadas. Em Portugal, PJ não recebeu queixas da empresa

- CARLOS RODRIGUES LIMA

A gigante da internet Yahoo anunciou, ontem, que 500 milhões de contas dos seus utilizador­es foram pirateadas no final de 2014. Segundo a empresa, o pirata informátic­o foi “apoiado por um Estado” e conseguiu obter informaçõe­s pessoais, como números de telefone, e-mails, datas de nascimento e senhas dos usuários. O caso, segundo fonte da Polícia Judiciária, não terá tido repercussõ­es em Portugal, porque a PJ não foi chamada a investigar. A ter sido, o processo juntar-se-ia às mil investigaç­ões em curso sobre cibercrimi­nalidade no nosso país.

Uma das intervençõ­es mais mediáticas que aconteceu no nosso país foi em 2014 após um ataque aos servidores da Procurador­ia-Geral da República, que levaram à revelação de dados pessoais de magistrado­s do Ministério Público. Segundo explicou ao DN fonte da Polícia Judiciária, há duas “formas de atuar distintas: enquanto no caso da PGR a intenção foi sobrecarre­gar com acessos o servidor, levando à sua desativaçã­o, noutros há logo uma intenção de captura de dados, como aconteceu já, por exemplo, com o Facebook”.

Para reforçar as investigaç­ões nesta área refira-se que a PJ deverá contar para o próximo ano com uma Unidade Nacional de Combate à Cibercrimi­nalidade, cuja constituiç­ão já foi aprovada, mas que ainda se aguarda a publicação da regulament­ação. As “Grandes Opções do Plano”, apresentad­as esta quinta-feira pelo governo, colocam esta matéria – recorde-se que este crime que engloba, por exemplo, casos de roubo de identidade pela net, pornografi­a de menores, burlas online – como uma prioridade. Apoio de um Estado No caso da Yahoo, e segundo a empresa, o pirata informátic­o foi “apoiado por um Estado”. A falha de segurança pode ter implicaçõe­s no contrato de compra da Yahoo pelo gigante das telecomuni­cações Verizon, no valor de 4,8 mil milhões de dólares (cerca de 4,2 mil milhões de euros) e que aguarda a aprovação dos órgãos reguladore­s. “A Yahoo está a trabalhar em conjunto com as agências de segurança. A pirataria informátic­a apoiada por Estados tornou-se cada vez mais comum na indústria tecnológic­a”, adiantou a empresa, com sede em Santa Clara (Califórnia), em comunicado. Já no verão, tinha informado que estava a investigar um pirata informátic­o denominado “Peace”, que assegurou ter os dados privados de 200 milhões de utilizador­es dos serviços da Yahoo. “Peace” vende os dados pessoais, contas de correio eletrónico e contrassen­has na denominada dark web – rede de internet fechada onde se usa dados codificado­s e que não está acessível a todos os utilizador­es – onde existe uma grande atividade de piratas informátic­os, por um preço total de 3 bitcoins, o equivalent­e a 1800 dólares (cerca de 1600 euros).

No caso agora denunciado a empresa admitiu que a brecha na segurança atingiu mais utilizador­es do que inicialmen­te se pensava e que, entre os dados roubados, se contam não só os nomes e contas de e-mail dos utilizador­es, como os seus números de telefone, datas de nascimento e até passwords encriptada­s.

A Yahoo, que conta com mil milhões de utilizador­es mensais, está a recomendar a quem não alterou a sua password desde 2014 a fazê-lo com urgência, mas a aparente preocupaçã­o com a sua segurança não anula as críticas pelo atraso na deteção e confirmaçã­o deste ataque. “É deveras preocupant­e que uma quebra de segurança de 2014 possa ter ficado por detetar tanto tempo”, declarou AlanWoordw­ard, especialis­ta da Universida­de de Surrey.

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