“Isolar radicais é negar-lhes direito à reintegração”
Governo francês quer unidades especiais de desradicalização nas prisões. Bernard Bolze critica medidas propostas
ESTRATÉGIA O site Prison Insider surge num momento em que a temática das prisões regressou à atualidade na Europa, no quadro da luta contra o terrorismo. Na semana passada o ministro da Justiça francês, Jean-Jacques Urvoas, anunciou novas medidas para combater a propagação do radicalismo islâmico nas prisões, quando o problema afeta também países como a Bélgica, Reino Unido e Holanda, onde em alguns estabelecimentos até 70% dos reclusos são muçulmanos.
Entre as medidas enunciadas pelo governo para lidar com cerca de 1500 indivíduos radicalizados, encontra-se a criação de novas unidades especiais ditas de “desradicalização” dentro dos estabelecimentos prisionais, onde os reclusos contam com apoio de sociólogos, psicólogos e outros especialistas num percurso de reinserção. Uma medida que está longe de ser consensual e que é criticada por Bernard Bolze. “Parece-me que é uma forma de negar a possibilidade de reintegração destas pessoas, uma forma de admitir que nunca vão mudar”, “conheço bem as unidades de alta segurança e posso dizer que são verdadeiros locais de tortura, onde não se respeitam as convenções internacionais”.
A agressão de dois guardas na prisão de Osny, arredores de Paris, no início do mês, relançou o debate sobre a eficácia das unidades de prevenção do terrorismo criadas em cinco estabelecimentos franceses. Um recluso, condenado a cinco anos por tentar juntar-se ao Estado Islâmico na Síria, atacou dois guardas com uma arma branca, naquele que é considerado o “primeiro ataque jihadista dentro de uma prisão em França”.
Em pré-campanha para as presidenciais de 2017, algumas figuras de direita defendem a criação de cadeias especiais para indivíduos radicalizados, e o encerramento em solitária para os 325 condenados por terrorismo, à semelhança de Salah Abdeslam, o único sobrevivente do comando responsável pela morte de mais de 230 pessoas em Paris nos atentados de novembro 2015. “Não podemos encerrar toda a gente potencialmente perigosa em campos”, insiste Bolze, em resposta à criação da primeira unidade de desradicalização de jovens no país, na semana passada, “trata-se antes de mais de um problema de sociedade”, afirma, “de tentar perceber como adolescentes abraçam esta ideologia”. J.M.S.