Diário de Notícias

Radi foi pioneiro contra o Benfica: “Era difícil ganhar em Chaves”

Ex-jogador búlgaro marcou a melhor era do clube transmonta­no: entre outras coisas, foi dele o primeiro golo flaviense contra o Benfica, em 1986, um mês depois de chegar

- RUI FRIAS

A 19 de outubro de 1986, 20 mil espectador­es encheram o Municipal de Chaves para assistir à visita do Benfica. Para lá do Marão, a equipa transmonta­na vivia os primeiros meses daquela que seria a sua melhor temporada de sempre. Figura imprescind­ível nessa história, um búlgaro que permanece ainda hoje na memória coletiva flaviense como o melhor futebolist­a que vestiu a camisola do clube: Radoslav Zdravkov, que o futebol português apadrinhou como Radi. Nessa tarde de outubro, há 30 anos, foi também ele a marcar o primeiro golo da vida do Grupo Desportivo de Chaves em jogos contra o Benfica.

“É claro que me lembro. Apesar de já terem passado estes anos todos, essas coisas não se esquecem. Foi o meu primeiro jogo em casa contra o Benfica, no dia em que a minha família chegou da Bulgária e foi ver-me, pela primeira vez, a jogar pelo Chaves”, relembra ao DN, por telefone, o antigo craque búlgaro, num português ainda fluído.

“Infelizmen­te perdemos 1-2. O Rui Águas fez o primeiro golo, eu ainda consegui empatar, mas depois o Benfica teve sorte num canto e marcou por aquele avançado sueco alto que tinha lá... [ndr: na verdade, foi o dinamarquê­s Manniche, o sueco Magnusson chegaria na época seguinte]”, desfia Radi, que acompanha com entusiasmo, mesmo que à distância, este regresso do Desportivo de Chaves à convivênci­a com a elite do futebol português e aos jogos de casa cheia no Estádio Municipal frente aos grandes, como acontecerá esta tarde (18.15, SportTV1) com a primeira visita do Benfica em 17 anos.

“Sei que os bilhetes esgotaram, que tem havido um interesse muito grande na cidade e é bom ver isso de novo. A gente de Chaves merece”, regozija-se Zdravkov, agora com 60 anos. “Naquela altura não era fácil para os grandes ganhar em Chaves”, recorda. “Eram sempre grandes jogos, com estádio cheio e muito apoio dos adeptos, mesmo que alguns fossem do Benfica ou do FC Porto também.”

Agora, espera que as visitas a Chaves “voltem a ser difíceis” para os grandes, mesmo que a viagem até para lá do Marão, perto da fronteira com Espanha, seja hoje em dia muito mais fácil e rápida do que naqueles primeiro tempos de Portugal na CEE. “As viagens eram complicada­s”, ri-se o búlgaro, que formula um desejo para esta noite: “Sei que o Chaves está a fazer um excelente início de época e ainda não perdeu. Espero que possa continuar a dizer isso depois do jogo.”

Chaves, depois do Mundial 86 Radoslav Zdravkov chegou a Chaves no final do verão de 1986, em setembro, já com 30 anos, depois de jogar o Mundial do México pela Bulgária, onde colecionou a melhor memória da carreira, quando se cruzou num relvado com Diego Maradona, no duelo com uma Argentina que se sagraria campeã.

Naquela altura, numa Bulgária comunista, “os jogadores só podiam sair do país a partir dos 28 anos”. Zdravkov aguentou no CSKA Sofia até aos 30, “para ter a certeza de que iria ao Mundial”. E aceitou depois o convite do Chaves, que apostou nele após perder os primeiros três jogos do campeonato de 1986-87. Em Portugal, Radi conquistou rapidament­e os adeptos transmonta­nos e a admiração generaliza­da no futebol português.

Nessa época de estreia em Portugal, além do primeiro golo flaviense ao Benfica – a primeira vitória, essa, também com Radi em campo, aconteceri­a na época seguinte, 1-0, com golo de Julio Sérgio –, o búlgaro contribuiu com mais dez para a histórica qualificaç­ão para a Taça UEFA, obtida com um quinto lugar no campeonato (depois do já excelente sexto lugar do Chaves na época anterior, a da estreia na I Divisão). A seguir, em 1987-88, Radi chegou aos 21 golos, só atrás do brasileiro Paulinho Cascavel, do Sporting (23).

“Era uma equipa que gostava de jogar bom futebol, técnico, que era o estilo do nosso treinador Raul Águas”, recorda sobre aqueles que não hesita em classifica­r como “os melhores três anos” da sua carreira. Agora, Radi fica a torcer para que a equipa treinada por Jorge Simão consiga replicar o sucesso daqueles anos 80.

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Radi esteve no Chaves de 86 a 89. Ainda jogou no Sp. Braga, Paços de Ferreira e Felgueiras

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