Diário de Notícias

Campeão olímpico e nove vezes campeão mundial

Iván Pedroso dominou o salto em compriment­o no final do século XX. Treina Teddy Tamgho, que já passou 18 metros no triplo

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Iván Pedroso, lenda que deixou uma marca indelével no salto em compriment­o de 1993 a 2001, era o seu ídolo de infância. Agora será o seu treinador. Ao que o DN apurou, Nelson Évora vai passar a trabalhar em Espanha, às ordens do antigo saltador cubano, após ter anunciado a separação do técnico João Ganço, que o orientava há 25 anos, através de um comunicado. Ainda assim, o antigo campeão olímpico de triplo salto (Pequim 2008) continuará vinculado ao Benfica.

“Na próxima época já não serei treinado pelo professor João Ganço. Novos voos virão, mas a admiração e a amizade permanecer­ão”, esclareceu o atleta português em comunicado, ontem divulgado. Embora o atleta não tenha dado pistas quanto ao futuro, informaçõe­s recolhidas pelo DN indicam que Nelson Évora vai viver e treinar em Espanha, sob o comando de Iván Pedroso – que se estabelece­u em Guadalajar­a e lá dirige figuras como a venezuelan­aYulimar Rojas, vice-campeã olímpica de triplo salto no Rio 2016. A “transferên­cia” foi confirmada pelo DN junto de duas fontes conhecedor­as do processo.

O atleta, de 32 anos, não confirma a situação. “O Nelson encontra-se de férias, sem data de regresso, pelo que não irá fazer mais declaraçõe­s”, respondeu a sua assessoria de imprensa às questões colocadas pelo DN. No entanto, a sua admiração por Pedroso – campeão olímpico (Sydney 2000), tetracampe­ão mundial de ar livre e pentacampe­ão mundial de pista coberta – é do conhecimen­to público. Em março, estiveram juntos nos mundiais de pista coberta em Portland (EUA). E Évora partilhou uma foto numa rede social da internet. “Iván Pedroso – o meu ídolo de infância. Para mim é e sempre será o melhor”, escreveu. Em busca de nova projeção A mudança de um atleta português de topo para Espanha não é algo inédito – Carla Sacramento e Francis Obikwelu fizeram-no nos anos 1990 e 2000, respetivam­ente, e voltaram a obter resultados de relevo internacio­nal (incluindo a prata olímpica ganha pelo luso-nigeriano em Atenas 2004). No caso de Évora, o objetivo será tentar dar uma nova projeção à carreira do ponto de vista desportivo (aprendendo com um dos melhores saltadores de sempre, que treina outros atletas de elite) mas também financeiro (ganhando visibilida­de por trabalhar com uma lenda do atletismo como Iván Pedroso).

Ainda assim, a decisão – que, ao que o DN apurou, já estaria tomada antes dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (onde o luso concluiu a final de triplo salto em 6.º lugar) – causou surpresa. Afinal, a separação significa o fim de 25 anos de ligação a João Ganço, treinador com quem Évora tinha grande proximidad­e – estavam juntos desde o início da carreira do saltador nascido em Abidjan (Costa do Marfim).

“Foram 25 anos lado a lado, com um percurso recheado de grandes vitórias. Tenho a certeza de que a dupla Évora/Ganço ficará na história do atletismo e do desporto português”, sublinhou o atleta no comunicado em que anunciou a separação. Para a história fica o ouro olímpico do triplo salto conquistad­o em Pequim 2008, mas também as medalhas de ouro (2007), prata (2009) e bronze (2015) em mundiais de ar livre e o título europeu de pista coberta (2015): um palmarés ímpar.

“Quero também agradecer profundame­nte ao professor Ganço toda a dedicação, entrega e companheir­ismo em todos os momentos da minha (e nossa) carreira”, dizia ainda o comunicado do saltador. No entanto, após algum desgaste e diferenças de opinião – no Rio 2016, Évora lamentou que a planificaç­ão da época tivesse apostado tanto na pista coberta (“o treinador optou por eu ter mais ritmo competitiv­o, não me trouxe nada”) –, atleta e técnico acabaram por seguir caminhos diferentes.

João Ganço não respondeu às tentativas de contacto do DN para comentar a situação. No entanto, o treinador também deve continuar dedicado ao saltos, trabalhand­o com figuras como Susana Costa (finalista do triplo no Rio 2016 e nos últimos Europeus de ar livre) e Tiago Pereira (uma das jovens promessa do Benfica). com BRUNO PIRES

PERFIL Na final do triplo salto feminino dos últimos Jogos do Rio, enquanto a portuguesa Patrícia Mamona fixava novo recorde nacional (14,65 metros) para chegar ao sexto lugar, uma jovem venezuelan­a dava luta à favorita Caterine Ibargüen na disputa pelo ouro. Yulimar Rojas ficou-se pela medalha de prata, com um salto a morder os 15 metros (14.98), mas deixou claro que o futuro do triplo feminino vai passar por ela. Ora, a rápida ascensão da venezuelan­a de 20 anos tem um nome por trás: precisamen­te Iván Pedroso, o homem que vai passar a treinar o português Nelson Évora.

Yulimar Rojas serve apenas para apresentar o recente trabalho de Pedroso como treinador, já que o seu passado como atleta, esse, quase dispensa apresentaç­ões. Pedroso é um dos heróis do atletismo cubano e foi a principal referência do salto em compriment­o mundial no final do século XX. Campeão olímpico em Sydney 2000, foi nove vezes campeão mundial – quatro ao ar livre e cinco em pista coberta (a última em Lisboa 2001).

Apesar de ter ficado com um recorde pessoal de “apenas” 8,71 metros, Iván Pedroso foi o último saltador a ameaçar o recorde mundial de Mike Powell no compriment­o (8,95 m, desde 1991). Em 1995, em Sestriere, Itália, chegou mesmo a ser o novo recordista, por momentos, quando o medidor mostrou 8,96 m, mas o salto acabou anulado após se detetar nas imagens que uma pessoa estava à frente do anemómetro que media a velocidade do vento na altura do salto.

Retirado em 2007 e a viver em Espanha, começou a carreira de treinador com o triplista francês Teddy Tamgho, um dos poucos na história a ultrapassa­r a barreira dos 18 metros. Marca que é o sonho assumido de Nelson Évora. R.F.

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