Veterania olímpica treina equipa portuguesa nos catamarãs que voam
O madeirense João Rodrigues, com experiência de sete Jogos Olímpicos, juntou-se à equipa portuguesa na Extreme Sailing Series
É impossível encontrar no olimpismo nacional alguém com mais experiência do que o velejador madeirense João Rodrigues. Com 44 anos completou no Rio de Janeiro a sua sétima participação olímpica, sempre na mesma classe da vela: windsurf. Nunca chegou às medalhas – Atlanta 96 foi o mais perto que esteve, com um sétimo lugar. De resto foi nesta modalidade tudo o que se pode ser: campeão do mundo, da Europa e nacional.
Quando a campanha do Rio de Janeiro terminou – a um lugar de poder aceder à regata das medalhas, que define os dez primeiros –, Rodrigues, madeirense, recebeu um telefonema de Diogo Cayola, o skipper da equipa portuguesa Sail Portugal-Visit Madeira que concorre este ano no campeonato do mundo dos ferra- ris da vela de veloci- dade, a Extreme Sai- ling Series (ESS). Queria-o para treinador da equipa. O homem do windsurf ficou surpreendido porque nunca na vida tinha posto os pés nos catamarãs que voam da ESS e a sua experiência essencial é de pranchas à vela. Cayola explicou ao DN por que convidou Rodrigues: “Nunca trabalhamos juntos mas conheço-o muito bem. Se tivesse de mudar de vida e abrir uma loja de flores, era com o João que o faria. Nunca fui de ter ídolos mas se tivesse de ter um seria o João.” A questão não é só técnica, é de confiança e carácter.
Rodrigues explicou ao DN que o que está previsto, para já, é treinar a equipa no circuito que está a decorrer neste momento, na baía do Funchal (que conhece como a palma das mãos), e no próximo, que será em Lisboa. “E depois logo se vê.” Não conhecendo os catamarãs de 32 (cerca de dez metros) da ESS, transporta no entanto décadas de experiência em alta competição, sensatez, e um modo de velejar no windsurf que tem semelhanças com as regatas ESS: dada as altas velocidades que os dois tipos de embarcação atingem, o vento aparente (o vento criado pelo próprio movimento do barco) torna-se um fator com tanta ou mais importância do que o vento real. Iniciou-se assim uma nova fase na vida do velejador madeirense que, pela sua experiência olímpica acumulada, foi na cerimónia de abertura dos Jogos do Rio o porta-estandarte da delegação portuguesa. O windsurf olímpico é uma página que garante estar definitivamente encerrada. “Estes últimos jogos foram extraordinariamente difíceis. Acabei completamente exausto. Se não der prazer não faz sentido. Tenho 44 anos, isto ressente-se. Acabou.”
O “efeito Rodrigues” pareceu ontem, no segundo dia do circuito do Funchal da ESS, já ter tido alguma consequência na equipa lusa. O treinador insistiu que na largada era importante a equipa conseguir definir uma posição na frota e manter-se nela quatro minutos antes do tiro de partida. E foi muito por causa disso, de uma boa partida, que o Sail Portugal-Visit Madeira conseguiu na quarta e última regata do dia um segundo lugar (em sete competidores), posição acima da média (está em quinto na geral do circuito madeirense e em sexto na classificação do campeonato).
O segundo dia do circuito madeirense da ESS – sexto num conjunto de oito circuitos – foi, mais uma vez, de ventos fracos – mas, apesar de tudo, ligeiramente mais fortes do que na véspera. Enquanto quinta-feira só se fez uma corrida, ontem foram quatro. À frente seguem o Red Bull e o Alinghi, ambos com 52 pontos. Em terceiro e quarto, também empatados, com 48 pontos, estão o Oman Air (campeão em título e atual líder do campeonato) e o SAP Extreme. Atrás da equipa portuguesa (41 pontos) vão o Land Rover BAR (38 pontos) e o Vega (36 pontos). O circuito madeirense terminará amanhã. De 6 a 9 de outubro estará em Lisboa.