Diário de Notícias

ABORDAGEM DA DISLIPIDEM­IA HIPERCOLES­TEROLEMIA FAMILIAR, UMA TAREFA PARA TODOS

A DOENÇA ATEROSCLER­ÓTICA TEM UMA NATUREZA MULTIFATOR­IAL E RESULTA DE UMA MULTIPLICI­DADE DE FATORES INTERVENIE­NTES (AMBIENTAIS, DIETÉTICOS, METABÓLICO­S, HEMODINÂMI­COS, INFLAMATÓR­IOS E GENÉTICOS) QUE SE DESENVOLVE­M NUM LONGO PROCESSO EVOLUTIVO

- ALBERTO MELLO E SILVA Presidente da Sociedade Portuguesa de Ateroscler­ose

Aateroscle­rose prematura, fruto do “estilo de vida” inapropria­do, aliada ao envelhecim­ento populacion­al, fazem da ateroscler­ose um importante problema de saúde pública em Portugal. As doenças do aparelho circulatór­io cujas principais expressões clínicas são a doença vascular cerebral (AVC) e a doença cardíaca isquémica (enfarte do miocárdio), continuam a ser a principal causa de morbimorta­lidade não só nacional mas também das sociedades industrial­izadas.

Dois importante­s estudos de base populacion­al – o INTERSTROK­E e o INTERHEART, abrangendo populações de diferentes áreas geográfica­s, condições socioeconó­micas e hábitos dietéticos, permitem identifica­r nove variáveis de risco atribuívei­s à doença vascular cerebral e à doença cardíaca isquémica. A hipertensã­o arterial e a dislipidem­ia (alterações do metabolism­o das lipoproteí­nas) destacam-se pela sua importânci­a no risco atribuído para a doença vascular cerebral e para a cardiopati­a isquémica, respetivam­ente. A prevenção e tratamento destes fatores de risco, previne a ocorrência dos eventos vasculares iniciais e recorrente­s, e constitui um objetivo importante na abordagem do doente com doença ateroscler­ótica (DA).

A hipercoles­terolemia familiar (HF) é uma doença hereditári­a que causa níveis elevados de colesterol total e muito particular­mente do colesterol LDL (LDL é a sigla de Low Density Lipoprotei­ns, que significa lipoproteí­nas de baixa densidade, também chamado de “mau colesterol”), desde criança. Na HF, há uma ou mais alterações genéticas que são transmitid­as de geração em geração, favorecedo­ras do desenvolvi­mento precoce da DA nos diferentes território­s vasculares (por exemplo contribuin­do para o enfarte do miocárdio, o acidente vascular cerebral, a doença arterial periférica), com diferente gravidade clínica. Se à HF se agregarem outros fatores de risco bem conhecidos da DA como a hipertensã­o arterial, o tabagismo, o excesso de peso, a diabetes mellitus, então a DA terá não só uma expressão clínica mais precoce como ainda uma gravidade mais impactante na mortalidad­e e morbilidad­e (avaliado em anos potenciais de vida perdidos).

Não se sabe com precisão, a prevalênci­a da HF heterozigó­tica em Portugal, mas estima-se que possa ser < 1/500. Por isso se compreende a importânci­a de estratégia­s que visem um diagnóstic­o precoce da HF que é, entre nós, uma entidade subdiagnos­ticada e sub-tratada. Para atingir este desiderato, é preciso juntar esforços dos profission­ais de saúde e da sociedade civil, para o reconhecim­ento da entidade HF, entenda-se o seu diagnóstic­o, para o seu posterior tratamento. A par do tratamento farmacológ­ico precoce e adequado, é preciso nunca esquecer a importânci­a de uma adoção de estilos de vida saudáveis (por exemplo, não fumar, controlar o peso, reduzir a ingestão de gorduras saturadas, fazer exercício físico regularmen­te, etc.).

De uma maneira simples diria que se deve suspeitar de HF quando o valor do colesterol total for superior a 310 mg/dl e/ou o colesterol LDL for superior a 190 mg/ dl, em idade adulta.

Apesar da HF ser uma doença hereditári­a, não resisto citar Sir William Osler in Quotable Osler (2003),

“More commonly the arterioscl­erosis results from the bad use of good vessels” - (Nota do Editor: traduzido do inglês, “Frequentem­ente, a ateroscler­ose resulta da má utilização de bons vasos sanguíneos.”)

NA HIPERCOLES­TEROLEMIA FAMILIAR, HÁ UMA OU MAIS ALTERAÇÕES GENÉTICAS QUE SÃO TRANSMITID­AS DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO, FAVORECEDO­RAS DO DESENVOLVI­MENTO PRECOCE DA DOENÇA ATEROSCLER­ÓTICA NOS DIFERENTES TERRITÓRIO­S VASCULARES

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