Para ganhar força, Sánchez ameaça com congresso
Estratégia do secretário-geral do PSOE para travar oposição interna poderá passar por relegitimar liderança através de diretas
Pedro Sánchez está definitivamente ao ataque. Reafirma o eterno “não” a Mariano Rajoy, confirma que irá tentar uma via alternativa para formar governo e deixa escapar a possibilidade de convocar um congresso federal expresso para relegitimar a sua posição como secretário-geral do PSOE e assim pôr termo à luta interna pelo poder.
Esta nova estratégia de Sánchez, para calar os críticos e reafirmar a sua liderança, é avançada pela generalidade da imprensa espanhola. O El Mundo, por exemplo, garante que conseguiu confirmar a informação junto de três membros da direção do partido, “dois deles muito próximos do secretário-geral”.
Ainda assim, não é garantido que o congresso venha a ser convocado. Até lá muita água irá correr debaixo da ponte. Tudo começa amanhã, com as eleições autonómicas na Galiza e no País Basco. Sánchez e a direção do partido fazem figas para que os resultados não sejam tão maus como as sondagens fazem crer. No caso de um descalabro eleitoral, a posição do líder ficaria ainda mais enfraquecida e ganharia força o cenário de alguém tentar desalojar Sánchez.
Outra data determinante em todo o processo é o próximo sábado, dia 1 de outubro, com a reunião do comité federal. Apesar de os críticos, encabeçados por Susana Díaz, presidente da Andaluzia, defenderem que não faz sentido o PSOE tentar governar tendo apenas 85 deputados, deverá ser exatamente isso que Sánchez irá comunicar ao partido, que tentará conseguir apoios para submeter-se a uma sessão de investidura. “Vale a pena acabar com os vetos cruzados [entre Podemos e Ciudadanos] para pôr em marcha o governo de mudança que este país merece”, afirmou ontem o líder dos socialistas numa intervenção em Bilbau.
Tendo em conta que Albert Rivera, líder do Ciudadanos, já garantiu que não aceitará um acordo tripartido com o PSOE e o Podemos, esta parece ser uma carta fora do baralho. A Sánchez resta assim apenas uma alternativa para chegar a primeiro-ministro, que passa por procurar o apoio dos partidos regionais e independentistas. Mas, para os barões do partido, esta é uma linha vermelha. Vários já vieram a público sublinhar que se opõem frontalmente a esta opção. Sánchez, explica o El Mundo em editorial, pretende colocar o partido perante um dilema: “apoiá-lo na tentativa desesperada de formar governo ou defender a abstenção para permitir que o Partido Popular governe”. A terceira hipótese é o país voltar às urnas.
Se as eleições de amanhã correrem mal ao PSOE é possível que os críticos comecem a afiar as facas e a pensar desalojar Sánchez da liderança antes das hipotéticas novas legislativas, que deverão ter lugar a 18 de dezembro. Nesse cenário, tudo indica que o secretário-geral deverá ele próprio abrir a luta pelo poder, convocando eleições diretas para 23 de outubro e marcando o congresso – que validaria a escolha dos militantes – para o fim de semana de 3 e 4 de dezembro. Isso permitiria a Sánchez, em caso de vitória, enfrentar as terceiras eleições numa posição fortalecida.
Este contra-ataque do secretário-geral já foi criticado abertamente por dois presidentes autonómicos, Emiliano García-Page, líder de Castela-Mancha, e Javier Lámban, de Aragão. “Seria um insulto aos cidadãos que o PSOE se dedicasse a ver quem fica com o lugar em Ferraz [nome da rua em Madrid onde se localiza a sede do partido] numa altura em que não há governo”, disse o primeiro em declarações ao El País.
De acordo com o La Vanguardia, os críticos de Sánchez assinalam que a convocatória de diretas e de um congresso em modo expresso deixaria pouco tempo para preparar um candidato alternativo. Outros, sublinha o mesmo jornal, aventam a possibilidade de Eduardo Madina – derrotado por Sánchez na corrida à liderança em julho de 2014 – voltar a avançar. “Agora contaria com o apoio de muitos daqueles que há dois anos travaram as suas ambições, começando por Susana Díaz”, escreve o diário catalão.