Diário de Notícias

“Code Black é mais realista e crua do que outras séries médicas”

A atriz que veste a pele da médica Leanne na série que passa na Fox Life admite que aprendeu uma linguagem nova com os jargões usados pelos médicos e revela que tem recebido elogios da classe. Lamenta as diferenças salariais entre homens e mulheres, mas a

- MÁRCIA GURGEL, em Londres

Na série Code Black dá vida à médica Leanne Rorish. Calculo que tenha aprendido muito com esta personagem. É muito interessan­te porque na altura em que estava a preparar-me para o papel tive a oportunida­de de estar no serviço de urgências de um hospital norte-americano e aquilo que verifiquei é que a equipa de médicos não só é muito experiente como consegue manter a calma. Eu não fazia ideia de que era assim. O que extraí dessa experiênci­a e apliquei à Leanne foi: sim, ela está na urgência, mas tem de estar calma. Aprendi isso e também aprendi muito sobre o funcioname­nto do corpo humano, sobre medicina. Claro que muitas das coisas que vou aprendendo durante as cenas acabo por esquecer com o passar dos dias. É uma área muito complexa... Sem dúvida. Não só a linguagem como o próprio trabalho. Com uma carreira de quase 40 anos, consegue definir o maior desafio que esta série lhe apresentou? Precisamen­te a questão da linguagem médica, porque é quase como aprender uma língua diferente. Ao longo da série tenho sentido uma busca constante, porque não conhecemos por completo a história daquela personagem. Num filme sabemos logo como é o início e o fim, e o mesmo acontece no teatro. É isso que nos permite delinear desde logo os traços da personagem que interpreta­mos. Numa série sabemos como é o início da história, mas depois o rumo muda e volta a mudar. E por vezes essas mudanças dependem dos espectador­es, outras de quem escreve a série. Estamos sempre perante uma linha com várias curvas e isso pode ser cansativo, mas muito desafiante ao mesmo tempo. Há um elemento diferencia­dor entre Code Black e as restantes produções televisiva­s centradas no universo hospitalar? Confesso que nunca assisti a muitas séries deste género, por isso a sua opinião deve ser melhor do que a minha [risos]. Daquilo que consigo observar, penso que Code Black é mais realista e mais crua, porque a nossa unidade serve uma comunidade pobre que não tem um plano de saúde. Acho que é isso que a diferencia. É uma série completame­nte despida de qualquer tipo de elegância ou glamour. As coisas acontecem de forma muito rápida. A segunda temporada estreia-se no dia 28 (nos Estados Unidos). O que podemos esperar? Vamos ver médicos a entrar e a sair do hospital, que é um reflexo daquilo que acontece na vida real. A vida privada da equipa vai ser mais explorada, e isto já é aquilo que os espectador­es querem ver, e também vamos assistir a momentos de nos tirar o fôlego. Mas não sei bem até onde vamos chegar com cada uma das personagen­s. Vamos esperar para ver. O set de filmagens também é caótico, ou esse caos é apenas visível para quem vê a série? Eu diria que é um caos organizado. Quando olhamos para um serviço de urgências parece uma lounão cura porque há demasiadas pessoas que andam sempre de um lado para o outro. Há gritos e encontrões. Mas para os médicos, enfermeiro­s e outros técnicos de saúde que lá estão, a verdade é que está tudo sob controlo. Mesmo no meio desse caos. E os médicos que conhece na vida real, o que lhe dizem desta sua personagem? Gostam muito. Grande parte dos nossos fãs e seguidores trabalham na área da saúde e aquilo que nos dizem é para continuarm­os a seguir esta linha. Pedem-nos para nos focarmos em cenas de sexo entre personagen­s, dizem que são coisas que não lhes interessa. Eles querem que o foco da história esteja naquilo que acontece num serviço de urgências. E sobre a Leanne Rorish, o feedback é semelhante? As pessoas adoram-na! É uma mulher forte, protetora, determinad­a, que se interessa verdadeira­mente pelos alunos. As pessoas gostam muito dela. E eu também [risos]. Disse numa entrevista que se estivesse num aeroporto e fosse preciso um médico oferecia-se para ajudar... Acho que isso foi mal interpreta­do. Quer dizer... Eu disse-o efetivamen­te, mas foi mais em tom de brincadeir­a. É muito complicado exercer o trabalho de um médico. O corpo humano é uma máquina, tem uma lógica muito interessan­te, mas o treino e a experiênci­a que os médicos têm nem sequer se compara com aquilo que eu sei. Eu sou apenas uma médica de brincadeir­a. Mudando um pouco de assunto, muitas atrizes têm vindo a publico manifestar-se relativame­nte às diferenças salariais que existem entre homens e mulheres em Hollywood. Também sente isso? Sem dúvida. Existem diferenças. Como lida com isso? Se duas pessoas têm os mesmos prémios, um papel com a mesma dimensão, por que motivo é que também não têm o mesmo salário? No caso de um ator ainda posso admitir que seja difícil determinar uma igualdade, mas em outras profissões em todo do mundo, as mulheres fazem o mesmo trabalho que os homens e recebem menos. Seja numa fábrica ou noutro sítio qualquer. Não há motivos para que isso aconteça. Mas acha que essa realidade vai mudar algum dia? Acho que sim. Será um processo lento e difícil, porque vai contra o sistema que está instalado, e acho que nos centros urbanos essa mudança será mais rápida do que noutras zonas do globo. Porque a igualdade, e aqui falo tanto da Europa como dos Estados Unidos, é completame­nte diferente da que existe, por exemplo, na Índia ou no continente africano. Uma última pergunta: diz-se que esta é a idade de ouro da televisão. Concorda? O que sei é que neste momento existem muito mais oportunida­des de trabalho na televisão. Além da televisão tradiciona­l temos agora também os serviços de streaming, com a Netflix por exemplo, o que faz que haja uma enorme oferta de séries de grande qualidade. E isso faz também que aumente o número de papéis para todos, mas especialme­nte para as mulheres mais velhas. Isso é fantástico, e eu própria estou a beneficiar com isso.

Aprendi muito

sobre o funcioname­nto do corpo humano

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