A primeira grande angústia
Nunca me emocionei com a história, por já ter coisas demais no presente que me fascinam. Era boa aluna, sim, mas também o era em Matemática ou Física, disciplinas que já não me dizem muito. A história da minha família nunca me despertou qualquer curiosidade. Sei que do lado do meu pai houve índios, ouvi algumas vezes a narrativa sobre uma tataravó, pega no laço por alguém que já não me lembro.Tenho um pouco de índia, e basta olhar para minha cara para saber disso. Ostento com orgulho essas feições, e também com vergonha por saber tão pouco. Do outro lado, em algum momento, é claro que existem portugueses, o que nos acontece a todos. Mas também não descobri. Lembro de já ter respondido à pergunta sobre a minha origem dizendo que era francesa, simplesmente para não dizer que não sabia. O sobrenome corroboraria a minha história – depois vim a saber que ele não é nada mais que admiração de outra tataravó por Alexandre Dumas e seu icônico Edmond Dantès. Vivi bem assim. De repente, me jogam em Portugal, numa vila encantadora e miúda, cheia de história e detalhes. Não preciso de muito para perceber que algo está diferente, um pensamento que começou pequeno, mas que insiste em crescer. Quero falar com a minha avó, saber quais são os sobrenomes daqui que foram carregados para lá, quero que ela me conte outra vez a história de alguém que foi ao Brasil tentar a vida, quando soube que havia recebido em Portugal uma boa herança. Sem dinheiro e condições de voltar, perdeu o espólio, não se sabe para quem. Aqui é impossível não ser tocada pelo passado. É angustiante desconhecer os séculos de história que nos separam e que nos unem. Mas, mais que tudo, é inspirador.Talvez não aprenda mesmo a gostar de história, ou talvez descubra que sirvo só para inventar outras tantas que nunca aconteceram, mas, de toda forma, já entendi como se gosta daqui.