Diário de Notícias

Madrid faz contas às regionais no País Basco e na Galiza

Líderes dos partidos nacionais fizeram uma pausa para tentar resolver o impasse político e estiveram ativos na campanha

- BELÉN RODRIGO, Madrid

Galegos e bascos vão hoje às urnas no meio de um bloqueio político nacional sem precedente­s. Uma situação excecional que dá maior protagonis­mo às eleições na Galiza e no País Basco. Os resultados não servirão para desbloquea­r automatica­mente o difícil mapa político da Espanha, mas vão dar argumentos aos distintos partidos para as futuras negociaçõe­s. Cada um espera tirar proveito desta nova ida às urnas dado o futuro incerto do país, independen­temente do que aconteça no âmbito regional. Por esse motivo assistimos na campanha ao “desembarqu­e de líderes nacionais” em terras galegas e bascas.

Madrid está atenta à Galiza, apesar do contexto político diferente. Maria Carmen González, jornalista do jornal La Voz de Galicia, começa por dizer que “a política galega tem o seu próprio ritmo” e que “o que estamos a ver cá não é o mesmo que o que estão a ver desde Madrid”. Refere, por exemplo, que há quatro anos foi uma surpresa a chegada ao Parlamento da Alternativ­a Galega de Esquerda (AGE), “um partido formado em pouco tempo por um velho conhecido da política, Xosé Manuel Beiras”, muito antes da formação do Podemos.

A jornalista galega garante que foi uma campanha “com um perfil muito baixo, sem emoção e sem propostas dos candidatos que estão com muito medo”. Isso, junto com o “cansaço dos galegos de ir às urnas”, faz pensar que neste domingo a participaç­ão seja baixa. Na Galiza “nenhum partido está a jogar a pensar num cenário nacional”, mas é inevitável que “cada partido tente sair reforçado” e todos os líderes nacionais estiveram presentes em alguns atos de campanha.

Há quem diga que a “Galiza antecipa um pouco os movimentos nacionais. Depois da maioria absoluta de [Manuel] Fraga chegou a de [José María] Aznar, e depois da maioria absoluta de [Alberto Núnez] Feijóo houve a de [Mariano] Rajoy”, lembra Maria Carmen. Caso esta maioria se repita, “seria um balão de oxigénio para o Partido Popular” (PP), mas se a esquerda tiver melhores resultados, “não irá ajudar os populares na procura de um desbloquei­o político ou numas terceiras eleições”.

No caso dos socialista­s galegos, “a situação é muito má porque têm um líder frágil, que tem parte do partido contra si, como acontece com Pedro Sánchez [líder nacional]”. E se falamos da AGE, “desta vez pode sair reforçada e aproveitar o puxão do Podemos”.

As sondagens dão a maioria absoluta a Feijóo “e é muito difícil que isso não aconteça”, diz Ignacio Escolar, diretor do Eldiario.es. “Tal como está criado o sistema, o PP sai beneficiad­o.” A maior incógnita, diz, está em saber se “o En Marea [Podemos e aliados] é mais forte do que o PSOE e o ultrapassa nos resultados”.

País Basco Nas eleições bascas, muito se tem especulado sobre um possível apoio do PP aos nacionalis­tas do PNV em troca da sua ajuda para a investidur­a de Rajoy. Uma hipótese cada vez menos provável tendo em conta que “além de possivelme­nte não ser necessário, esta estratégia não interessa ao PNV, partido que conta com uma política de acordos de coligação com os socialista­s a nível municipal”, explica ao DN Olatz Barriuso, jornalista de El CorreoVasc­o. Os nacionalis­tas só precisam do PP “se a soma de deputados do EH Bildu [independen­tista] e do Podemos for superior à soma dos deputados do PNV e dos socialista­s (PSE)”, acrescenta Barriuso. Um cenário pouco provável segundo as sondagens.

No País Basco consideram que estas eleições são bastante diferentes das nacionais e lembram que o sistema para eleger o lehendakar­i (presidente basco) não é o mesmo que o do chefe do governo. “No País Basco não se pode votar contra os candidatos a lehendakar­i, só a favor ou na abstenção. Desta forma evita-se sempre o bloqueio”, sublinha Barriuso.

Esta diferença entre política regional e política nacional está a ser utilizada pelo PNV para mostrar aos eleitores que “no País Basco sabemos pactuar”. O lehendakar­i Íñigo Urkullu adiou as eleições um mês “para evitar contaminar-se com a situação política nacional”.

Outro dado que mostra as diferenças entre regionais e legislativ­as no território basco são os resultados. “Nos comícios de dezembro e junho ganhou o Podemos, foi um voto anti-Rajoy e anti-PP”, esclarece a jornalista. “Agora as sondagens colocam o Podemos como segunda ou terceira força. O voto é mais conservado­r, os bascos preferem manter o que já existe.”

Olatz Barriuso acredita que a única forma que o PP tem para sair reforçado depois das eleições bascas “é conseguir um empate ou melhor resultado do que os socialista­s e não permitir que o Ciudadanos fique com algum dos seus deputados”. Esse cenário seria “uma prenda extra para Rajoy”, mas caso não haja surpresas, “o impacto das eleições bascas na política nacional não será muito visível”.

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1. O primeiro-ministro Mariano Rajoy ao lado do presidente do governo da Galiza, Alberto Nuñez Feijóo, em Pontevedra. Líder do PP galego tenta uma nova maioria absoluta na região e Rajoy quer aproveitar 2. O socialista Pedro Sánchez com a candidata do...
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