Sentir Cuba com os Rolling Stones
Grande acontecimento global: na noite de sexta-feira dia 23, cerca de mil salas de cinema apresentaram, em todo o mundo, o filme Havana Moon, prodigioso registo do concerto que os Rolling Stones deram em Cuba no passado dia 25 de março (em Portugal, o filme passou nas salas da cadeia UCI, em Lisboa, Porto e Amadora). Como estava anunciado no site oficial da banda, tratou-se de um espetáculo “nos cinemas, por uma única noite”.
Estamos, afinal, perante um típico fenómeno dos nossos dias. A raridade do acontecimento será relativa (mais tarde ou mais cedo o filme terá, por certo, outra difusão em canais de televisão e nos circuitos de DVD e Blu-ray). De qualquer modo, a proliferação de plataformas de difusão, e respetivas alternativas de consumo, favorece este conceito: as salas de cinema podem também acolher eventos que não estão vocacionados para uma “carreira” – uma noite, uma sessão, o mundo todo.
Claro que não estamos a falar de um clímax banalmente mediático induzido pelo marketing, promovendo o mesmo vazio de certos gadgets irrisórios que proliferam em telemóveis, aplicações e derivações mais ou menos “sociais”. Nada disso: o verdadeiro acontecimento reside no facto de Havana Moon ser um fascinante objeto de cinema, desde já um dos momen- tos mais altos na história moderna dos “filmes-concertos”.
Escusado será sublinhar a importância simbólica que o concerto teve para os espectadores cubanos. Concluindo uma digressão por países da América Latina (Olé Tour 2016), a banda de Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ronnie Wood encarou esta performance como um momento emblemático, não apenas da sua carreira, mas da própria sociedade cubana e da sua mais recente abertura ao exterior. Em declarações integradas no filme, Jagger refere que se tratou de um evento tão rigorosamente negociado e planeado que até a data resultou de uma escolha criteriosa, de modo a não se sobrepor a qualquer outra realização do calendário global (lembra mesmo que desistiram de uma data inicial porque, entretanto, tinha sido “roubada” por Barack Obama).
A realização de Paul Dugdale, sustentada pelo assombroso trabalho de montagem da dupla Simon Bryant-Tom Watson, sabe superar qualquer visão tradicional do palco, envolvendo-nos num jogo de perspetivas que, com sofisticada agilidade, circula por todas as zonas do espetáculo sem perder a sensação muito física do espaço em que tudo acontece – observe-se, por exemplo, a longa e espetacular performance do clássico Gimme Shelter.
Daí a importância (informativa e simbólica) das imagens dos espectadores. Muito para além de qualquer descrição “pitoresca”, são imagens de gente viva, capazes de nos fazer sentir a emoção cubana de, no ano da graça de 2016, poder finalmente receber os Rolling Stones. Como diz a canção, tudo isto é apenas rock’n’roll – mas nós gostamos!
O concerto de Havana foi um evento fascinante