O cinema como estética opaca
EVOLUÇÃO LUCILE HADZIHALILOVIC Numa ilha vulcânica habitada apenas por mulheres e crianças do sexo masculino, Nicolas, um desses rapazinhos, começa a questionar as práticas e os rituais que o rodeiam. Evolução, o mais recente e hermético filme de Lucile Hadzihalilovic – que faz parelha, na construção enigmática, com o anterior Inocência (2004) –, apresenta-se ao olhar neste estado interrogativo, que nunca deixa de fustigar a sua beleza sombria, mas cansativa, pelo excesso de opacidade narrativa. Porque tem Nicolas de tomar todas as noites uma tintura negra a que a mãe chama remédio? O que se passa no hospital para onde é levado, e onde assistimos a macabras operações biológicas? O que fazem as mulheres à noite? Será tudo um sonho? Evolução é uma armadura visual, que nos enclausura num universo simbólico, rejeitando a clareza para dar exclusividade ao mistério. Uma vez encerrados neste estranho encanto, desejamos, pelo menos no final, ir um pouco mais longe na metáfora construída, que se fica pela estética severa, desconcertante, aguda, mas propositadamente impenetrável. Por definição, assim é o cinema desta francesa. INÊS LOURENÇO ★★ Com Interesse