Diário de Notícias

A preto e branco

- PAULO BALDAIA

Nenhuma discussão deve ser feita na base de que a razão está toda de um lado ou de outro, e isso é muito notório quando falamos sobre os salários da administra­ção da Caixa Geral de Depósitos. Vem isto a propósito de me ter visto a mim próprio entrar nessa discussão, só vendo branco onde outros só viam preto. Exemplo: Catarina Martins a defender no Parlamento que é “simplesmen­te inaceitáve­l” a existência de “salários milionário­s” ou eu a defender que “faz pouco sentido perder tanto tempo a discutir o salário de António Domingues” vai dar exatamente ao mesmo, a uma discussão a preto e branco em que ninguém fica esclarecid­o.

Felizmente, no meio destas discussões em que muitos se põem de um lado da trincheira e muitos do lado contrário, há também muita gente que não alinha em claques e procura um debate moderado, sendo capaz de argumentar com as virtudes e os defeitos da solução encontrada. Está neste grupo, nesta discussão, o Presidente da República. E o que nos disse Marcelo, que vale a pena reter para discussões futuras sobre tema idêntico? Disse-nos, há mais de três meses, quando promulgou o decreto-lei, que “vencimento­s mais elevados implicam acrescida responsabi­lidade pelos resultados”, e insistiu no assunto a semana passada, reiterando que o vencimento a pagar aos administra­dores “devia atender ao resultado da gestão, para não ficar a sensação de que havia valores muito elevados não acompanhad­os de resultados positivos”.

Importa, e muito, focarmo-nos neste ponto de Marcelo, porque é ele que pode dar ou tirar razão a quem defende este tipo de ordenados ou a quem frontalmen­te se opõe. Se o governo tivesse atendido às razões do Presidente, já a discussão seria mais serena. O ordenado mensal poderia ter sido fixado num ponto mais razoável e o valor anual poderia até ser maior do que está previsto ser. Bastava ter marcado claramente os objetivos e os prémios a distribuir por objetivos concretiza­dos. Se os salários que muitos, como eu, defendem que devem ser pagos também num banco público não tiverem resultados espetacula­res, não é só a administra­ção da Caixa Geral de Depósitos que fica em causa, é também o poder político que não defendeu convenient­emente o dinheiro dos contribuin­tes.

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