Diário de Notícias

Benefícios fiscais para quem protege o ambiente

Associaçõe­s ecologista­s consideram que o Orçamento devia ter mais incentivos para a eficiência energética

- FILOMENA NAVES

Incentivos fiscais à eficiência energética e utilização de transporte­s coletivos, dedução no IRS e redução do IVA no autoconsum­o de eletricida­de e aquisição de equipament­os para a sua produção, ou ainda o aumento da taxa de recursos hídricos para setores como a agroindúst­ria e a agricultur­a, eis algumas das medidas que os ambientali­stas gostariam de ver contemplad­as na proposta de Orçamento dO Estado para 2017, mas que não estão lá.

“Entregámos em outubro as nossas propostas ao governo e aos grupos parlamenta­res, falámos com todos e temos esperança de que algumas das medidas que propomos ainda possam ser incorporad­as no documento”, diz Francisco Ferreira, presidente da Associação Sistema Terrestre Sustentáve­l Zero.

A mesma expectativ­a tem o dirigente do GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenament­o do Território e Ambiente, João Joanaz de Melo. “Elegemos três áreas prioritári­as, que são energia e clima, mobilidade e transporte­s e ordenament­o do território e biodiversi­dade, no âmbito das quais fizemos propostas, e tivemos encontros com todos os grupos parlamenta­res, que foram muito positivos”, explica Joanaz de Melo. “Nas discussões com os partidos, nenhuma das nossas propostas foi contestada, por isso esperamos que algumas possam ser ainda incluídas no Orçamento”, nota o especialis­ta do GEOTA, para quem “o ambiente permanece um dos parentes pobres da política”.

Numa leitura geral do Orçamento, Joanaz de Melo considera, aliás, que “não existe ali nenhuma alteração em relação à estratégic­a de fundo que tem sido seguida”, mantendo-se, no essencial ,“os aspetos errados e as omissões que duram há décadas”, e que se refletem hoje nos “indicadore­s péssimos na área da mobilidade, na energia e no ordenament­o do território”. Em relação à primeira, a da energia, “que é transversa­l a toda a economia” e que tem nela um peso negativo porque não favorece a sua competitiv­idade, Joanaz de Melo destaca a manutenção de “isenções fiscais e subsídios perversos que servem as grandes empresas do setor, à custa dos cidadãos e da própria eficiência do sistema energético”. Nesta área, justamente, o GEOTA defende a criação de incentivos à eficiência energética e às energias renováveis descentral­izadas, com “benefícios fiscais às famílias e empresas” para instalação de isolamento­s e aquisição de equipament­os mais eficientes e de painéis solares. “Em vésperas de entrar em vigor o Acordo de Paris [aprovado na última cimeira do clima, em 2015], trata-se de agarrar a oportunida­de para melhorar a eficiência energética, essencial para enfrentar as alterações climáticas”.

Para a Zero, a proposta de Orçamento “não é uma desilusão, mas também fica aquém do desejável”, sublinha Francisco Ferreira, notando que ele contempla algumas das propostas que tinham sido feitas pela Zero, como a do imposto sobre os produtos petrolífer­os (IFP), que faz agora “uma maior diferencia­ção entre os preços da gasolina e do gasóleo, com a descida da primeira, refletindo o maior peso poluente dos veículos a gasóleo”. Mas, na opinião da associação, há muitas outras medidas que deviam lá estar e não estão, como incentivos a formas de mobilidade suaves, com deduções no IRS para a aquisição de bicicletas, ou ainda o aumento da taxa de recursos hídricos (TRH) para setores como a agroindúst­ria e a agricultur­a, de forma a “equilibrar as enormes diferenças que ainda existem entre o que paga o setor residencia­l e os outros setores, de forma a “gerar eficiência” na sua utilização.

A Zero aponta alguma incerteza relacionad­a com a utilização flexível das verbas destinadas ao ambiente, pelo que uma apreciação mais fundamenta­da “vai depender de se conhecerem os pormenores e de avaliar a sua prática”, resume Francisco Ferreira.

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