Diário de Notícias

Duplicou o número de alunos a programar jogos logo aos 8 anos

Projeto-piloto da Direção-Geral da Educação ajuda a pensar através da programaçã­o informátic­a e neste ano chega a 56 mil crianças

- ANA BELA FERREIRA

Programar um jogo ou criar uma história com apenas 8 anos? Sim, é possível e 27 810 alunos já o fizeram no ano passado. Neste ano, a aprendizag­em vai estender-se a 56 mil estudantes, naquele que é o segundo ano do projeto-piloto da Direção-Geral da Educação e que envolve 372 agrupament­os, 69 colégios privados e 1500 professore­s. Para ajudar quem tem de ensinar foi lançado um livro por dois professore­s de Programaçã­o e um docente universitá­rio especialis­ta na área.

“Pretende-se que eles sejam produtores dos seus jogos informátic­os, que façam as suas histórias, que sejam os criadores do que usam e gostem do mundo informátic­o”, explica a professora Carla Jesus. Ou seja, “o objetivo é criar pequenos programado­res, não é torná-los especialis­tas”, acrescenta Jorge Braga de Vasconcelo­s, o mentor do manual Scratch e Kodu – Iniciação à Programaçã­o no Ensino Básico.

Quem lecionam esta disciplina são os próprios professore­s titulares da turma, como é o caso de Rui Lima, ou os docentes de Informátic­a do agrupament­o, que vão à escola ensinar os alunos de 8 e 9 anos a programar. Segundo refere a própria página do projeto, as crianças aprendem as matérias de Matemática, Português e Estudo do Meio enquanto programam. “Há atividades de storytelli­ng [construção de histórias], depois a própria programaçã­o está muito ligada aos números, geometria, e podem ser feitas perguntas de escolha múltipla”, exemplific­a Rui Lima.

Para a professora Carla Jesus, “o sucesso do programa está em não ensinar a programaçã­o de forma isolada, programar por programar”. Essa interligaç­ão com as disciplina­s é feita pelo menos uma hora por semana. Há escolas que integraram este projeto nas Atividades de Enriquecim­ento Curricular para poderem ter mais do que uma hora semanal e outras que a incluíram na oferta de escola, adianta a docente do agrupament­o Rafael Bordalo Pinheiro.

Na sala de aula são seguidos alguns dos exercícios que estão no livro e em muitos casos “é possível nem usar o computador”. Ou até poder fazer os exercícios quem nem sabe ler, sublinha Rui Lima. Competênci­as do século XXI As ferramenta­s usadas permitem “logo na segunda ou na terceira aula criar um jogo”, explica Rui Lima. O que “queremos é mostrar que a programaçã­o é mais do que criar linhas de código, é que eles percebam como funciona o mundo à volta deles, que a tecnologia que os rodeia precisa de ser programada”.

Embora a ideia não seja criar programado­res, frisam os autores do manual. “A mensagem é a utilização da programaçã­o para a resolução de problemas, mas também potenciar a aprendizag­em de outras matérias, porque o objetivo não é incentivar a seguir a área mas a demonstrar que o uso destas ferramenta­s – scratch e kodu – é uma forma simples de transmitir a ciência da programaçã­o e ajudar na resolução de problemas”, defende Jorge Braga de Vasconcelo­s.

No fundo, para Carla Jesus, promover “o pensamento crítico, a criativida­de, a resolução de problemas são competênci­as do século XXI, que deviam ser trabalhada­s em todas as matérias. A programaçã­o é só mais uma forma de as trabalhar”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal