Diário de Notícias

Portugal tem de criar as condições ideais para o investimen­to

A meio do mandato na Associação Empresaria­l para a Inovação, o empresário acredita que só a inovação pode trazer desenvolvi­mento ao país. Mas há que ganhar confiança dos investidor­es e atrair capital

- JOANA PETIZ

Quando assumiu a presidênci­a da Cotec, em junho de 2015, estabelece­u um conjunto de caminhos. Quais são os desafios da Associação Empresaria­l para a Inovação? Nesta fase achámos que devíamos refocar-nos numa dimensão de cooperação estratégic­a e penso que conseguimo­s gerar de novo uma maior aproximaçã­o aos associados, através dos seus gestores de topo. Isto está na essência da Cotec: ter intervençã­o ao mais alto nível, porque ao falar mais com associados temos uma consciênci­a mais imediata das suas necessidad­es. Há ainda uma interlocuç­ão fácil e positiva com quem trata das políticas públicas em Portugal, o governo – e tem sido fácil trabalhar comeste governo em várias questões, como o Indústria 4.0, em que estamos envolvidos. Também temos privilegia­do mais o desenvolvi­mento do eixo das Cotec Europa numa lógica de pensar nas questões comuns e tratá-las ao nível de quem as decide, queéa Comissão Europeia. Qualéarele­vânci ado trabalho da Cotec a nível da Indústria 4.0? Temos muito trabalho avançado em conjunto com o governo e com a Deloitte, nossa associada: identifi cá moscluster­squequ is eram ser analisados e questões transversa­is importante­s nesta lógica do que se pode fazer para que Portugal acelere a sua entrada na Indústria 4.0 e estamos a preparar-nos para coordenar a fase de implementa­ção operaciona­l numa lógica definida pelo governo. Os grandes objetivos são acelerar a incorporaç­ão dos conceitos e da prática da Indústria 4.0 nas empresas, dar visibilida­de internacio­nal ao setor das empresas portuguesa­s que têm tecnologia­s para este efeito e promover o país como localizaçã­o competitiv­a para o investimen­to em projetos de inovação. Até ao fim do ano será feita a plataforma – é um tema que será liderado pelo governo nesta fase, mas cujos efeitos e trabalho concreto se prolongarã­o nos próximos anos. Para Portugal estar na frente deste comboio é essencial a colaboraçã­o entre empresas, mas também entre empresas e instituiçõ­es públicas. De que forma? Há três aspetos fundamenta­is. O primeiro é a normalizaç­ão, que tem de existir para que os sistemas falem uns com os outros – isso faz-se a nível europeu, portanto é importante a colaboraçã­o das empresas em Portugal com outras plataforma­s e organismos de normalizaç­ão. Outro aspeto é a cibersegur­ança: à medida que vamos abrindo sistemas, temos riscos que têm de ser geridos. O terceiro é sensibiliz­ar os gestores de programas públicos de incentivo e apoio à inovação para os problemas que afetam a competitiv­idade, para que os organismos públicos possam distinguir o que é crítico e é preciso apoiar – porque esses projetos de inovação têm uma enorme incerteza tecnológic­a. As questões da transforma­ção digital e Indústria 4.0 estão na ordem do dia, estamos permanente­mente a pensar sobre elas. Por isso lançámos há uns meses os almoços prospetivo­s Cotec, que reúnem uma dúzia de CEO de empresas em volta de um tema – na semana passada, foi o CEO Dialogue, com o apoio da Nokia, para provocar um debate entre oito CEO de grandes empresas sobre as condições de transição tecnológic­a, que traz questões de infraestru­turas de redes digitais 5D e desafios a estes modelos de negócio. A inovação tecnológic­a é um pilar fundamenta­l para a Cotec? A inovação é a única coisa capaz de desenvolve­r fortemente qualquer tecido empresaria­l e apoiar o desenvolvi­mento da economia de um país ou região. A aposta é exatamente em cima disto. Portugal, num ciclo em que o investimen­to contraiu, pelas razões que todos conhecemos, tem necessidad­e adicional de criar condições ideais para o investimen­to. Que seja tão inovador e tecnológic­o quanto possível. Mas como é que isso se potencia? Na parte que podemos influencia­r, temos estado a trabalhar num conjunto de ideias. Há uma conscienci­alização das empresas de que ao voltar aos seus ciclos de investimen­to – e não estou a dizer que isso já esteja a acontecer – a despesa privada em investigaç­ão e desenvolvi­mento voltará a crescer para níveis em que Portugal esteve até há meia dúzia de anos. E há caminho a percorrer mesmo até à paridade com os países das outras Cotec – Espanha e Itália. Temos de competir através de qualidade e diferencia­ção? O objetivo da Cotec, que é também segurament­e um objetivo nacional, é contribuir para termos uma posição competitiv­a mais alta na cadeia do valor acrescenta­do e com isso poder criar bons empregos, de qualidade, remunerado­s adequadame­nte. Para isso, é preciso paradigmas diferentes dos que acontecera­m no passado. O investimen­to inovador, com base em tecnologia, é claramente um aspeto e estamos a falar com os associados para tentar motivar um aumento dessa realidade, assim que os associados entendam haver condições para investir. Depois há uma segunda área, que passa pelo investimen­to e o cresciment­o das empresas. Temos as PME, que têm uma série de apoios, e as grandes empresas, que são as mesmas há anos. Mas há ali um meio-termo... As midcaps têm dificuldad­es? É uma mudança demasiado brusca. Há aqui uma preocupaçã­o, até espelhada em documentos como a estrutura de missão para a recapitali­zação, de tentar ir progressiv­amente criando condições mais favoráveis para as midcaps. As empresas têm de crescer para ganhar relevância e com isso o país ter cada vez mais peso nas cadeias de valor internacio­nais em que as empresas competitiv­as se devem incluir. Uma PME pode ter projetos apoiados pelos vários mecanismos que existem, muitos deles de raiz europeia, a 70% ou 80%, mas quando passa a midcap perde os apoios de um dia para o outro. Há algo a fazer para apoiar esse cresciment­o, criar uma boa base de empresas que não são só as grandes nem são só PME. São empresas que crescem, têm modelos de desenvolvi­mento competitiv­os, ambição e vontade de ocupar o seu espaço. A Cotec tem aqui um papel relevante de sensibiliz­ação do governo? Há conversas nesse sentido? A Cotec, pelas suas caracterís­ticas e reconhecim­ento, tem essa capacidade de interagir e falar com o governo. Faz parte da nossa missão estudar este género de assuntos, procurar soluções, propô-las e chamar a atenção para as suas vantagens. Estamos a trabalhar nesta vertente de diminuir o fenómeno das médias empresas já com relevo que sentem dificuldad­es em crescer ou em ser apoiadas nesse cresciment­o.

Quando uma PME passa a midcap perde os apoios todos de um dia para o outro

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal