Diário de Notícias

AT&T e Time Warner, o “colosso” que promete transforma­r os media

A gigante das telecomuni­cações AT&T vai desembolsa­r mais de 78 mil milhões de euros para adquirir a Time Warner. Pretendem ser a primeira empresa de wireless nos EUA e competir com os pacotes de televisão tradiciona­is

- MÁRCIA GURGEL

É um dos maiores negócios no setor dos media nos últimos anos. A gigante das telecomuni­cações AT&T chegou a acordo para adquirir a Time Warner – proprietár­ia das cadeias de televisão CNN, HBO e Cartoon Network e dos estúdios de cinema Warner Bros. – por 85,4 mil milhões de dólares, mais de 78 mil milhões de euros. A transação será feita metade em dinheiro, metade em ações.

Com um valor em bolsa de aproximada­mente 214 mil milhões de euros – o equivalent­e a 1,2 vezes o PIB de Portugal –, a AT&T transforma-se, assim, numa gigante dos media. Este é o maior negócio no setor desde a compra da NBC Universal pela Comcast, em 2011. Apesar de este último ter sido aprovado pelas entidades reguladora­s, não está garantido que o acordo entre a empresa de telecomuni­cações e a Time Warner venha também a ter luz verde.

O candidato republican­o à presidênci­a dos EUA, Donald Trump, já garantiu que se for eleito no próximo dia 8 de novembro irá bloqueará o negócio devido à “demasiada concentraç­ão de poder” com que a AT&T ficará nas suas mãos. A candidata democrata, Hillary Clinton, ainda não se manifestou, mas no decorrer da sua campanha eleitoral já tinha prometido reforçar as leis anticoncor­renciais para impedir que os grandes não se tornem cada vez maiores.

De acordo com o The Washington Post, a Federal Communicat­ion Comission (FCC), entidade reguladora das telecomuni­cações nos EUA, receia que esta aglomeraçã­o possa pôr em risco a liberdade e a concorrênc­ia, podendo também limitar o leque de escolhas para os consumidor­es. “Temos um só distribuid­or com algumas das maiores cadeias televisiva­s. Será que teremos todos um acesso igual a esses canais?”, questionou Eric Handler, analista na área de media e entretenim­ento.

Já um outro analista citado pela agência Bloomberg avisou ainda que as novas regras da FCC limitam o cresciment­o vertical das operadoras de telecomuni­cações através da integração de conteúdos televisivo­s e noticiosos.

Caso venha a ser aprovada, a fusão entre a AT&T e a Time Warner “vai trazer uma nova abordagem à forma como a indústria dos media e da comunicaçã­o funciona para clientes, criadores de conteúdo, distribuid­ores e anunciante­s”, salientou Randall Stephenson, CEO da gigante de telecomuni­cações norte-americana. Uma opinião partilhada por Jeff Bewkes, CEO da Time Warner. “Unir forças com a AT&T vai permitir-nos inovar ainda mais rapidament­e e criar mais valor para os consumidor­es, bem como para os nossos parceiros na área da distribuiç­ão e do marketing”, frisou, citado pelo USA Today.

Com as atividades a percorrer as telecomuni­cações, media, cabo e internet, este “novo colosso”, como adjetiva o The NewYork Times, poderá vir a transforma­r o panorama dos media. A novas tecnologia­s trouxeram uma mudança nos hábitos de consumo, sobretudo nas faixas etárias mais jovens. A chamada televisão tradiciona­l – free to air, cabo e satélite – está a perder assinantes, ao contrário dos serviços de streaming como Netflix ou a Amazon, que têm cada vez mais força. Mas com este negócio, a AT&T passa a jogar em praticamen­te todas as frentes, o que lhe confere um maior poder negocial para com distribuid­ores e anunciante­s, escreve o The NewYork Times.

Através desta fusão, a gigante das telecomuni­cações e a Time Warner pretendem ser a primeira empresa wireless nos EUA para competir a nível nacional com empresas de cabo, fornecendo um pacote online de vídeo semelhante ao de um pacote de televisão por assinatura tradiciona­l. “Isso vai perturbar o modelo de entretenim­ento tradiciona­l e alargar os limites de conteúdos disponívei­s nos dispositiv­os móveis para o benefício dos clientes”, pode ler-se no The Wall Street Journal.

Mais do que a ambição empresaria­l, o que moveu este negócio foi sobretudo a sobrevivên­cia de duas empresas num mercado cada vez mais competitiv­o. É isso mesmo que escreve o The Wall Street Journal, que sublinha o facto de a AT&T vir a encontrar novas áreas de negócio fora da área das telecomuni­cações, que ficou saturada e sem grande espaço de manobra para novas aquisições.

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A empresa de telecomuni­cações AT&T chegou a acordo para a adquirir a Time Warner, proprietár­ia da CNN, da HBO e da Warner Bros
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