Diário de Notícias

Em Ventimigli­a, sonha-se com a vida em França

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ITÁLIA Longe da sobrelotad­a Selva de Calais onde os migrantes tentavam esgueirar-se a bordo de camiões com destino ao Reino Unido, centenas de pessoas estão a arriscar a vida para entrar na outra ponta de França, a partir do Norte de Itália. A fronteira entre a italiana Ventimigli­a e Menton, no Sul de França, já é conhecida como Mini Calais –e o problema pode tornar-se maior. Só numa semana, os guardas costeiros resgataram mais de dez mil migrantes que saíram da Líbia, na costa norte de África.

Todas as noites, pessoas que fugiram da guerra em países como o Sudão e a Líbia deixam o acampament­o da Cruz Vermelha e da Cáritas no lado italiano na esperança de poder ultrapassa­r os cinco a seis quilómetro­s de montanhas e túneis e entrar em França sem serem apanhados. “Esta é a minha oitava tentativa”, disse Hassan, um jovem que deixou a região sudanesa do Darfur há cinco anos e conseguiu chegar tão longe apesar de uma lesão de infância que o deixou com uma deficiênci­a no andar.

Um número recorde de 65,3 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir de casa em todo o mundo no ano passado, com as guerras na Síria e em África a serem responsáve­is por uma grande parte do aumento de 50% desse fenómeno nos últimos cinco anos, disse o Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados num relatório em junho. Isso significa que uma em cada 113 pessoas no planeta é agora um refugiado, requerente de asilo ou deslocado interno.

“Itália não, Itália não”, grita um grupo de jovens migrantes entre os que estão a jogar ao gato e ao rato com os guardas fronteiriç­os franceses. “Pessoalmen­te, quero chegar a Montpellie­r porque uma mulher francesa que conheci no barco falou disso”, indicou Magdi, que deixou o Sudão em janeiro, atravessan­do o Chade, Níger e Líbia antes de chegar aVentimigl­ia. Uma das suas tentativas para entrar em França foi abortada quando outro migrante foi atingido por um comboio e ficou seriamente ferido quando caminhava ao longo dos carris.

Para os que conseguem ir mais longe do que Magdi e o seu companheir­o, existem muitas hipóteses de virem a ser recambiado­s de imediato. O departamen­to local da polícia na região francesa dos Alpes Marítimos diz que 1521 migrantes foram detidos só numa semana, dos quais 94% foram novamente entregues aos italianos. Só neste ano, o número total de detenções na área foi de 24 344. MATTHIAS GALANTE, jornalista da Reuters

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