Diário de Notícias

O estado da coisa

- JOANA PETIZ

De um lado fazem-se ciclovias, do outro abatem-se árvores. Por aí apregoa-se a construção de praças em todos os bairros para devolver uma parte da cidade às pessoas, mas o que se vê lá fora, como enxames descontrol­ados, são obras que impedem carros e peões de passar ou provocam ataques de asma e de nervos a quem não tem vias alternativ­as. Pedese às famílias que voltem à cidade e até se pensa em obrigar os senhorios a ter algumas casas acessíveis para o garantir, mas os martelos pneumático­s contra o alcatrão pela madrugada dentro – para não tornar ainda mais infernais os dias de quem tem de se movimentar pelas ruas e avenidas – não deixam dormir nem os miúdos nem os pais. Assim vai Lisboa, pela mão da equipa de Fernando Medina, que a herdou há ano e meio e conseguiu uma surpreende­nte unanimidad­e entre a oposição: do PCP ao CDS, todos concordam que nunca viram tamanha confusão. O estado da cidade vai hoje a debate pela última vez antes das autárquica­s de 2017 e as notícias não são boas para Medina quando se vê que os únicos pontos positivos encontrado­s na sua gestão são os recordes do turismo (que na verdade pouco ou nada têm de responsabi­lidade sua) e a projeção da cidade em eventos desportivo­s como as Olisipíada­s. Podemos fingir que se trata de política como sempre – é papel da oposição discordar, contrapor, fazer pensar diferente, ainda que nos últimos tempos nos tenhamos desabituad­o disso –, mas o que aqui está a acontecer é mais do que isso. O que se passa é que Fernando Medina está sozinho na visão de uma cidade que não é de todo a que os autarcas de qualquer um dos outros partidos defendem. Pior, não é a cidade que a maioria dos lisboetas que ter – mesmo depois de as obras terminarem. A obstinação de um presidente que quer fazer coisas de mais para o tempo que tem está a deixar a cidade invivível. E só Medina não o consegue ver.

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