O estado da coisa
De um lado fazem-se ciclovias, do outro abatem-se árvores. Por aí apregoa-se a construção de praças em todos os bairros para devolver uma parte da cidade às pessoas, mas o que se vê lá fora, como enxames descontrolados, são obras que impedem carros e peões de passar ou provocam ataques de asma e de nervos a quem não tem vias alternativas. Pedese às famílias que voltem à cidade e até se pensa em obrigar os senhorios a ter algumas casas acessíveis para o garantir, mas os martelos pneumáticos contra o alcatrão pela madrugada dentro – para não tornar ainda mais infernais os dias de quem tem de se movimentar pelas ruas e avenidas – não deixam dormir nem os miúdos nem os pais. Assim vai Lisboa, pela mão da equipa de Fernando Medina, que a herdou há ano e meio e conseguiu uma surpreendente unanimidade entre a oposição: do PCP ao CDS, todos concordam que nunca viram tamanha confusão. O estado da cidade vai hoje a debate pela última vez antes das autárquicas de 2017 e as notícias não são boas para Medina quando se vê que os únicos pontos positivos encontrados na sua gestão são os recordes do turismo (que na verdade pouco ou nada têm de responsabilidade sua) e a projeção da cidade em eventos desportivos como as Olisipíadas. Podemos fingir que se trata de política como sempre – é papel da oposição discordar, contrapor, fazer pensar diferente, ainda que nos últimos tempos nos tenhamos desabituado disso –, mas o que aqui está a acontecer é mais do que isso. O que se passa é que Fernando Medina está sozinho na visão de uma cidade que não é de todo a que os autarcas de qualquer um dos outros partidos defendem. Pior, não é a cidade que a maioria dos lisboetas que ter – mesmo depois de as obras terminarem. A obstinação de um presidente que quer fazer coisas de mais para o tempo que tem está a deixar a cidade invivível. E só Medina não o consegue ver.