Diário de Notícias

Professore­s presos nos 4.º e 6.º escalões têm a haver 27 milhões

Impasse em torno de 3000 docentes que deveriam ter progredido em 2010 faz a fatura aumentar. Nova ação coletiva vai avançar

- PEDRO SOUSA TAVARES

Os cerca de 3000 professore­s que, de acordo com dados da época, ficaram “presos” aos 4.º e 6.º escalões da carreira já terão a haver mais de 27 milhões de euros do Ministério da Educação. Nas próximas duas semanas, dará entrada uma nova ação coletiva contra a tutela, interposta pelo Sindicato Independen­te e Democrátic­o dos Professore­s (SIPE), representa­ndo entre 80 e uma centena de docentes.

Os professore­s em causa não progredira­m em 2010 porque, ao contrário do que sucedeu com os docentes de todos os outros índices remunerató­rios, a sua evolução estava sujeita a vagas – 50% para os do 4.º escalão e 33% para os do 6.º – a definir por uma portaria que nunca chegou a ser publicada. Entretanto, as carreiras foram congeladas em 2011, e assim continuam.

Desde 2012 que a Provedoria de Justiça vem aconselhan­do o Ministério da Educação a reposicion­ar todos os professore­s que tinham reunido condições para progredir antes de 2011. Mas as portarias que o permitiria­m fazer nunca foram publicadas. Nem Isabel Alçada, nem Nuno Crato, nem Margarida Mano (ministra por dois meses), nem o atual titular da pasta da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, concretiza­ram a medida.

“Sucessivam­ente temos vindo a falar com os governante­s e sucessivam­ente têm-nos dito que sim, que pretendem resolver a situação. Houve a Provedoria de Justiça e logo no início [da atual legislatur­a], na reunião com o ministro da Educação, falámos sobre isto e também nos disse que sim, disse ao DN Júlia Azevedo, secretária-geral do SIPE, confirmand­o que está a ser ultimado o processo contra o ministério, a entregar nas próximas duas semanas no Tribunal Administra­tivo e Fiscal do Porto: “Todos os outros escalões avançaram em 2010. Só estes não avançaram. E chegámos à conclusão de que só os tribunais podem resolver esta questão: “De boas intenções está o inferno cheio”, desabafou.

Em causa está a passagem de professore­s do 4.º para o 5.º escalão, com uma evolução salarial de 1982 para 2137 euros brutos, e do 6.º para o 7.º, correspond­ente à passagem de 2227 para 2473 euros brutos.

Em termos líquidos, de acordo com fonte do gabinete jurídico do SIPE, cada um destes professore­s teria ganho cerca de cem euros mensais nos ordenados. E foi com base nesse valor – já consideran­do os cortes que os professore­s e outros funcionári­os públicos tiveram nos últimos seis anos – que o DN chegou a uma estimativa de pelo menos 27,2 milhões de euros em falta. Isto porque o entendimen­to da Provedoria de Justiça, que cor- responde ao que será reclamado em tribunal, é que o reposicion­amento deve incluir a retroativi­dade dos valores a receber. Fenprof quer provedor a arbitrar A Federação Nacional dos Professore­s (Fenprof ), confirmou ao DN Mário Nogueira, secretário-geral desta organizaçã­o sindical, também patrocinou ações individuai­s e coletivas (em Lisboa, Porto, Coimbra e Faro) de associados seus nestas condições. Processos em curso há mais de dois anos.

“O ideal seria encontrarm­os uma solução política para isto”, disse, lembrando que a questão também já foi colocada pela Fenprof à tutela, mas admitindo que tal não deverá ser possível, porque o Ministério da Educação – que não respondeu às questões do DN, invocando não ter sido ainda notificado da ação do SIPE – estará a defender que o congelamen­to das carreiras o impossibil­ita de fazer os acertos.

Essa interpreta­ção da lei, defendeu Nogueira, é “contorcion­ista”, já que os docentes em causa “reuniam todos as condições para progredir a 31 de dezembro de 2010, antes do congelamen­to”. No entanto, o sindicalis­ta revelou que a Fenprof “vai propor ao ministério que a decisão seja colocada nas mãos da Provedoria de Justiça, aplicando-se o que esta decidir”.

Tendo em conta as posições da provedoria, não apenas em relação a esse caso – neste ano, o gabinete do provedor José Faria Costa defendeu também o reposicion­amento, em função dos anos de serviço, dos 4000 professore­s que entraram para os quadros nos últimos anos –, a sugestão não deverá ser aceite.

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