Diário de Notícias

“Nem só de gás e petróleo vive África. Futuro é na agricultur­a”

Câmara Agrícola Lusófona organiza agrofórum da comunidade. Presidente Jorge Santos destaca o potencial do continente

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ILÍDIA PINTO Lisboa recebe esta sexta-feira o primeiro Agrofórum Países da CPLP 2016, uma organizaçã­o da Câmara Agrícola Lusófona (CAL) que conta já com 1200 participan­tes inscritos e que pretende dar a conhecer as experiênci­as de negócios da agroindúst­ria no seio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A conferênci­a pretende sobretudo “atrair e mobilizar mais os empresário­s portuguese­s para que invistam” no setor e nos países africanos, quando “o agronegóci­o na CPLP tem agora milhões para o setor privado como nunca teve e um grande potencial de cresciment­o”, salienta o presidente da Câmara Agrícola Lusófona. Jorge Santos refere-se aos 3,6 mil milhões de euros de fundos que a União Europeia disponibil­iza, no âmbito do novo quadro comunitári­o de apoio, para investimen­tos privados em África.

Jorge Santos lembra ainda que estes fundos resultam de uma “mudança de orientação política”, já que os apoios, antes “muito vocacionad­os para a ONG”, estão agora focados nas empresas e na atração de investimen­tos locais. “Só as empresas é que irão criar emprego e desenvolvi­mento”, defende. Para o presidente da CAL, África “será o próximo continente a ter uma revolução ‘verde’”, pelo que é fundamenta­l que as empresas portuguesa­s “estejam atentas” ao “enorme potencial” da agroindúst­ria para a CPLP.

Um potencial que Jorge Santos não consegue quantifica­r, pelo que recorre aos números atuais para dar uma noção da dimensão de desenvolvi­mento possível: “O potencial é gigantesco, a começar pelo Brasil. Cerca de 37% das terras aráveis do planeta estão na América Latina e, destas, 33% estão na África subsariana”, lembrou, frisando a posição geoestraté­gica do continente. Mas também os dados do comércio: “Angola importa 2,3 mil milhões de euros anuais de produtos agroalimen­tares, dos quais só 700 milhões são fornecidos por Portugal. Se olharmos para Moçambique, são 36 milhões exportados para uma importação total anual de 1,4 mil milhões de euros. Só em termos de comércio bilateral já o potencial é imenso, mas há que investir localmente”, defende. Para Jorge Santos “o negócio dos contentore­s” é uma “realidade do passado” e os empresário­s que “quiserem ganhar quota de mercados em África têm de estar

Capoulas Santos, ministro da Agricultur­a, é um dos participan­tes presentes, nem que seja só com o seu armazém ou o seu entreposto comercial”.

O presidente da CAL cita, ainda, os números do que é hoje já a realidade da CPLP – “quase 300 milhões de habitantes, responsáve­is por 4% do PIB mundial e 2% do comércio, mas por 50% das reservas de petróleo e gás do mundo, a que se junta a língua comum, a quinta mais falada no mundo e a segunda mais usada na internet”. “Temos de trabalhar todos em conjunto para que sejamos mais fortes, em rede, criando sinergias, porque este é um mercado de tal dimensão que levará 30 a 40 anos a desbravar.”

O evento, com presença confirmada do presidente do Banco Africano para o Desenvolvi­mento, da representa­nte do Mecanismo de Facilitaçã­o do Setor Privado no Conselho Consultivo Mundial de Segurança Alimentar das Nações Unidas e do ministro da Agricultur­a, Capoulas Santos, extravasa já as fronteiras da CPLP e conta com participan­tes de 18 países, como a África do Sul, Gabão e Quénia.

ANA MARCELA

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