Diário de Notícias

A sedução de Meryl Streep no Festival de Tóquio

Cinema. A atriz americana, convidada para a gala de abertura, falou com o DN no Festival de Tóquio, o maior evento de cinema asiático, que hoje arranca na capital japonesa

- RUI PEDRO TENDINHA, em Tóquio

O Japão está apaixonado por Meryl Streep. A atriz americana abre hoje o Festival de Tóquio e ontem na apresentaç­ão à imprensa jurou a pés juntos estar apaixonada pelo país que a venera.

Streep é vista pelos japoneses com uma reverência fora do vulgar. No encontro com a imprensa local e poucos jornalista­s ocidentais convidados do festival, a atriz foi aplaudida e recebida como uma diva. A madrinha de abertura do festival chega com o pretexto de promoção de Florence – Uma Diva Fora de Tom (estreado em Portugal o mês passado), obra de Stephen Frears que ainda não se estreou no Japão e que tem honras de abertura no festival.

Com uma simplicida­de e humildade que já não surpreende­m, Meryl Streep começou por dizer que apenas conseguiu vir ao festival por estar neste momento desemprega­da: “Pois, o Stephen Frears e o Hugh Grant estão a trabalhar... Seja como for, é uma honra poder estar aqui a abrir o festival. Amo o Japão e é um prazer poder cá voltar. A sério, sinto-me mesmo deveras honrada. Queria muito que as famílias japonesas fossem ver Florence – Uma Diva Fora de Tom”.

Ao DN, com um sorriso expansivo, contou que já não se espanta com o resultado das suas transforma­ções no final de um filme: “O que me deixa sempre surpreendi­da depois de pela primeira vez ver um filme em que entro é perceber como os outros são tão bons. É que quando estou a rodar estou tão dentro da personagem que não consigo olhar para mais nada de forma objetiva... Portanto, quando vejo o filme pronto surpreendo-me sempre. Adoro essa sensação da primeira vez que vejo o filme, é como se estivesse a ver o mundo pelo olhar do realizador...”

Quando um jornalista espanhol lhe pergunta qual a sensação de ser a atriz escolhida por Hillary Clinton para a interpreta­r num eventual filme de Hollywood, volta a sorrir. “Fico sempre muito lisonjeada por essa preferênci­a. Mas teria de esperar para ser a Hillary no cinema – o melhor dela ainda está por vir.” Mas se uns dias antes, no Festival de Roma, tinha dado que falar por ter

confessado que está realmente convencida de que a candidata democrata será a vencedora das eleições presidenci­ais de novembro, aqui, em Tóquio, foi mais comedida: “Só queria que as eleições fossem o mais cedo possível. Tudo isto tem sido um grande fardo para nós todos na América.” A atriz já apareceu publicamen­te ao lado de Clinton e não esconde o seu apoio democrata.

Aos 67 anos, Meryl Streep apresentou-se no centro do Festival de Tóquio sem maquilhage­ns reforçadas e vestida com um bom gosto casual. A tal humildade que marca o seu estilo e com uma frescura que não sentíamos no grande ecrã ultimament­e: em Ricky e os Flash, de Jonathan Demme, vendia uma amargura de rocker decadente e em Florence – Uma Diva Fora do Tom, interpreta­va uma septuagená­ria. No seu caso, os 60 parecem os novos 50. Meryl Streep está impecável. “O que me atraiu em Florence – Uma Diva Fora do Tom foi poder interpreta­r alguém bem mais velho do que eu. Acho que me safei... Penso que nunca houve um filme americano cuja protagonis­ta tivesse 70 anos! Claro que o mercado olha para esta coisa das idades mas o que aconteceu em Mamma Mia! dá que pensar: tinha 58 anos e foi o filme mais popular que já fiz. Ainda bem que se quebram todas essas regras da idade. Em parte, devemos também isso à qualidade da ficção televisiva dos nossos dias. Isso tem sido muito positivo para as atrizes, provou-se que há um interesse do público em ver atrizes mais maduras a trabalhar”, revelou.

O DN soube também que um dos grandes fascínios de Meryl Streep é o sushi. Nesta vinda ao Japão, aproveitou para conhecer a bela cidade de Kyoto onde experiment­ou diversos tipos de tofu. Neste encontro para a imprensa referiu que investigou as excentrici­dades gastronómi­cas da milionária Florence Foster Jenkins, a personagem que interpreto­u em Florence – Uma Diva Fora do Tom: “A verdade é que ela era muito excêntrica nesse domínio. Apenas comia salada de batata e sanduíches. Fazia questão de nunca cozinhar e, no seu apartament­o de Nova Iorque, não existia sequer cozinha.”

Sobre os seus dotes de cantora, afirmou que agradece sempre os elogios referentes a quando cantou no grande ecrã e que em Florence – Uma Diva Fora do Tom fez questão de treinar a sério com cantores de ópera: “Quis primeiro saber cantar algumas áreas. Mais tarde, a ideia foi brincar a partir de uma certa base.”

Florence Foster Jenkins, milionária que foi considerad­a por muitos a pior cantora do mundo, não tinha consciênci­a da sua inépcia como cantora lírica na Nova Iorque dos anos 1940. “Se tenho o sonho de ser cantora? Não sei... acho que sim, que ainda gostaria, embora não seja muito boa. Continuo a tentar.”

E quando ela tenta...

 ??  ?? Florence – Uma Diva Fora de Tom, protagoniz­ado por Meryl Streep, abre hoje a 29.ª edição do Festival de Tóquio
Florence – Uma Diva Fora de Tom, protagoniz­ado por Meryl Streep, abre hoje a 29.ª edição do Festival de Tóquio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal