Diário de Notícias

O trunfo de Hillary na reta final e os desafios do dia seguinte às eleições

Sondagem da ABC News dá 20 pontos de vantagem à candidata democrata no voto entre as mulheres. Ainda há estudos de opinião que dão a vitória ao republican­o Donald Trump

- JOSÉ FIALHO GOUVEIA

Pela primeira vez, na próxima quinta-feira, Michelle Obama vai fazer campanha lado a lado com Hillary Clinton. As duas primeiras-damas, a antiga e a atual, vão dar as mãos num comício na Carolina do Norte, um dos mais importante­s dos swing states – ou estados oscilantes, que de eleição para eleição podem alterar o sentido de voto entre os partidos Democrata e Republican­o.

A mulher do presidente Barack Obama é vista como uma espécie de trunfo de Hillary Clinton para as semanas finais de campanha.

De acordo com uma sondagem publicada na semana passada pelo The Wall Street Journal, a taxa de aprovação da atual primeira-dama ronda os 60%. “Não há ninguém que seja mais eficaz do que ela. Tem muita credibilid­ade quando fala e quando se envolve”, sublinha Jennifer Palmieri, diretora de comunicaçã­o da equipa de Hillary Clinton.

Para o jornal The Washington Post, “Michelle Obama tem a habilidade de fazer aquilo que Clinton tem tido muita dificuldad­e em conseguir: explicar as razões pelas quais os eleitores devem votar nela para presidente”.

Brian Fallon, porta-voz da candidata democrata, regozijou-se no domingo com a disponibil­idade que Michelle Obama tem mostrado para participar em ações de campanha: “Tem excedido as nossas expectativ­as e tem sido uma verdadeira estrela de rock.”

Na próxima quinta-feira será a primeira vez que a primeira-dama irá aparecer ao lado de Hillary, mas desde a convenção democrata, no final de julho, já foram seis os comícios em que Michelle apareceu para defender a nomeada pelo Partido Democrata.

De acordo com a BBC, não é normal que, ao fim de oito anos e de dois mandatos, o casal que está prestes a deixar a Casa Branca tenha tanto valor acrescenta­do em campanha como os Obama parecem ter. Nem mesmo Bill Clinton, que se despediu da presidênci­a com boas taxas de aprovação, foi aproveitad­o como Michelle e Barack têm sido. All Gore, o candidato democrata nas eleições de 2000, terá mesmo preferido que Clinton não fosse usado em campanha com medo que carregasse consigo demasiados anticorpos.

“É preciso recuar até 1988 – quando Ronald Reagan se fez à estrada para apoiar o seu vice-presidente George H. W. Bush na batalha contra o democrata Michael Dukakis – para encontrar algo semelhante com o que estamos a ver agora [com o envolvimen­to dos Obama]”, escreve no seu site a estação de televisão britânica.

Michelle contra Trump Nas últimas semanas a primeira-dama fez dois discursos que foram marcantes, um no dia 14, em New Hampshire, e outro na passada quinta-feira, no Arizona. No primeiro, a mulher de Barack Obama desferiu um mortífero ataque a Donald Trump. Não tanto pela violência das palavras mas mais pela sinceridad­e que conseguiu passar naquilo que disse. “Na semana passada ouvimo-lo gabar-se por ter assediado sexualment­e várias mulheres. Não consigo acreditar que estou a dizer que um candidato a presidente dos Estados Unidos se gabou de assédio sexual. Não consigo deixar de pensar no assunto. Foi algo que me abalou de uma forma que não estava à espera”, afirmou Michelle Obama, na ressaca do vídeo que veio a público em que Donald Trump aparece a vangloriar-se de conseguir fazer o que quer das mulheres por ser conhecido e famoso.

“Foi uma intervençã­o muito poderosa. Nunca vimos uma primeira-dama fazer campanha por outro candidato com o entusiasmo e compromiss­o que Michelle tem demonstrad­o”, refere Myra Gutin, da Rider University, especialis­ta com vários trabalhos publicados sobre as mulheres dos presidente­s norte-americanos.

Donald Trump viu-se obrigado a ripostar e recuperou uma frase de Michelle em 2007, quando Hillary era adversária de Barack Obama nas primárias do Partido Democrata: “Não foi ela que disse que quem não consegue tomar conta da própria casa certamente não vai conseguir tomar conta da Casa Branca?” Para o candidato republican­o, Michelle, nesta declaração, estava de forma subtil a tentar atingir Hillary. Na época, os Obama negaram que fosse essa a intenção, explicando que se tratava apenas de uma referência à exigência que representa­va conci-

liar uma campanha eleitoral com as obrigações da parentalid­ade.

Quando faltam apenas 15 dias para as eleições de 8 de novembro, Hillary Clinton parece ter uma vantagem segura, pelo menos de acordo com as probabilid­ades de vitória calculadas pelo especialis­ta em estatístic­as Nate Silver, do site FiveThirty­Eight (ver infografia). Depois de uma perigosa aproximaçã­o de Donald Trump durante agosto e setembro, a candidata democrata aproveitou o mês de outubro para cimentar a sua liderança.

Mulheres contra Trump Na média de todas as sondagens nacionais disponibil­izada pelo The New York Times, Hillary apresenta uma vantagem de seis pontos percentuai­s sobre Donald Trump: 46,4% contra 40,2%. Ainda assim, olhando para as três mais recentes, há resultados para todos os gostos. A ABC News dá a vitória à democrata por 12 pontos de diferença (50% contra 38%), a Rasmussen coloca Trump na dianteira com mais dois pontos percentuai­s (43% contra 41%) e um estudo da empresa IBD/TIPP aponta para um empate a 41%. Apesar de tudo, a tendência geral aponta claramente para que as eleições venham a ser conquistad­as por Hillary Clinton.

Olhando mais em detalhe para a sondagem da ABC News percebe-se que o voto feminino mostra-se determinan­te para a dianteira de Hillary. A candidata democrata apresenta uma vantagem de 20 pontos sobre Donald Trump consideran­do apenas as intenções de voto das mulheres.

É habitual o eleitorado democrata ser maioritari­amente feminino e é preciso recuar até às eleições de 1988 para encontrar um republican­o (George H.W. Bush) que se tenha mostrado mais sedutor para as mulheres do que um democrata (Michael Dukakis).

Ainda assim, uma vantagem de 20 pontos é bastante significat­iva. De acordo com a Gallup, desde 1952 só por três ocasiões um candidato conseguiu uma diferença superior entre as mulheres: Dwight D. Eisenhower, republican­o, mais 22 pontos, em 1956; Lyndon B. Johnson, democrata, mais 24 pontos, em 1964; e Richard Nixon, republican­o, mais 24 pontos, em 1972. Todos venceram as eleições.

Da mesma forma que Hillary Clinton recolhe a preferênci­a entre as mulheres, Donald Trump é o candidato preferido pelos homens, com uma vantagem de três pontos segundo a sondagem da ABC News (44% contra 41%).

De acordo com um artigo do FiveThirty­Eight publicado no passado dia 11, se só os homens votassem, Trump seria o próximo presidente e o mapa dos EUA ficaria praticamen­te todo pintado com o vermelho republican­o. O magnata nova-iorquino arrecadari­a 350 dos 538 grandes eleitores em disputa, ficando Hillary apenas com os 188 restantes.

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Michelle Obama e Hillary Clinton juntas, em 2012, numa cerimónia em Washington destinada a distinguir mulheres de coragem
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