O estado da cidade: entre a bênção do turismo e o inferno das obras
Hoje é o último debate do estado da cidade antes das autárquicas do próximo ano. Oposição queixa-se da falta de planeamento, mas elogia projeção internacional
A vida em Lisboa melhorou ou piorou no último ano. A Assembleia Municipal vai hoje fazer a avaliação do trabalho de Fernando Medina, que pode contar com um “debate bastante animado” do estado da cidade. A projeção da presidente da Assembleia Municipal, Helena Roseta, vai ao encontro das posições dos deputados dos vários grupos municipais. Para a oposição o maior pecado do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) são as obras espalhadas pela cidade. Do lado oposto não podem esconder o sucesso que a capital tem conquistado além-fronteiras, nomeadamente com o aumento dos turistas e a receção de eventos internacionais como o Web Summit.
“Há muita confusão na nossa cidade e é preciso que se resolva”, sublinha Sérgio Azevedo. O deputado municipal do PSD adianta que vai questionar o executivo camarário sobre “os problemas processuais que têm existido nas obras, como o caso que levou à suspensão das obras na Segunda Circular.”
Para o PCP, toda a confusão nas obras de pavimentação resulta “de uma navegação à vista”. “Não há planeamento, estas obras vão atrás do prejuízo. Passámos anos a dizer que os pavimentos não estavam bem, foram acumulando e agora fazem tudo de uma vez”, aponta o deputado Silva Santos.
É também a mobilidade que o CDS escolhe como “problema principal”. Diogo Moura, deputado centrista, não tem dúvidas de que “as obras lançadas são apenas uma afirmação do presidente não eleito”. “Obviamente que vamos ter mais espaços verdes e espaços públicos arranjados, achamos é que a câmara está a estrangular a entrada de carros, mas não arranja soluções, nem com os transportes públicos nem com a rede viária. Falta uma visão metropolitana da cidade.”
É este ponto que faz que seja “praticamente impossível movimentar-se em Lisboa” que leva Ricardo Robles, do Bloco de Esquerda (BE), a considerar que “a cidade está pior do que há três anos”. O Bloco vai aproveitar também o facto de este ser o último debate sobre o estado da cidade antes das autárquicas do próximo ano para avaliar a presidência. “Fernando Medina tem um ano e meio de presidente e um ano e meio de vice-presidente e vereador das finanças, o que se conclui é que Medina falhou.” Uma dessa falhas é a promessa de “cinco mil fogos para a classe média em Lisboa”, que não vai ser cumprida.
Mais otimista está, naturalmente, o deputado socialista José Leitão, que antevê um “debate esclarecedor e tranquilo, dado que a cidade vive um momento de grande desenvolvimento”.
Pontos positivos também são encontrados pela oposição. O CDS, que garante se focar “numa oposição construtiva”, elogia “o salto positivo no desporto, na promoção internacional de Lisboa como capital do desporto, e a criação das Olisipíadas que uniu o associativismo na área do desporto e envolve muito a comunidade”. Já os sociais-democratas destacam “o apoio às startups,a aposta no digital e em serviços úteis e que têm sucesso”. O turismo é o ponto mais forte da cidade para Silva Santos, do PCP. Enquanto para o deputado do Bloco tudo isto se resume a “uma obsessão com o turismo, a Web Summit, e não há uma resposta para os problemas concretos das pessoas”.
Pacto de governo para fundos O debate de hoje acontece no dia seguinte à assinatura do acordo para Lisboa receber 250 milhões de euros ao abrigo do Plano Juncker. Fundos que a cidade vai gerir nos próximos 20 anos, o que vai levar o PSD a propor “um pacto de regime entre as principais forças políticas”. “A linha de crédito é para ser usada muito para lá do limite de mandatos que o atual presidente pode vir a cumprir e portanto o que queremos é que em conjunto se possa decidir se estes 250 milhões de euros podem vir a ser usados, que em conjunto se faça um diagnóstico da cidade”, adiantou o deputado Sérgio Azevedo.