Na dança do swing, Hillary mexe-se melhor do que Trump
Arizona pode ser a grande surpresa e cair para os democratas. Algo que só aconteceu uma vez desde 1952, quando Bill Clinton venceu
Olhando para o mapa dos Estados Unidos, Hillary Clinton, que hoje faz 69 anos, encontra seis razões para esboçar um largo sorriso. A vida, assim rezam as sondagens, corre-lhe de feição no Colorado, no Michigan, em New Hampshire, na Pensilvânia, na Virgínia e no Wisconsin. Traduzindo a geografia para politiquês, a candidata democrata é a provável vencedora em seis dos 11 estados que o site de informação Politico definiu como decisivos para a eleição do próximo dia 8 de novembro.
Os swing states – ou estados oscilantes – são os estados que costumam alternar o sentido de voto de eleição para eleição, ao contrário de outros, que se mostram consistentemente fiéis aos democratas ou aos republicanos. Regra geral são esses estados que acabam por decidir o vencedor.
Não existe uma lista imutável de swing states, mas os 11 definidos pelo Politico para as eleições deste ano são considerados estados-chave por quase todos os analistas. Além de ter uma vitória provável em seis deles, Hillary Clinton também lidera nas sondagens – ainda que por uma margem menor – na Florida, no Nevada e na Carolina do Norte.
Ao fazer as contas, Donald Trump encontra poucas razões para otimismo. Quem de 11 tira nove fica apenas com dois. Iowa (41,7% contra 38%) e Ohio (44,6% contra 44%) são os únicos swing states que neste momento parecem poder pender para o candidato republicano.
A confirmarem-se as tendências das sondagens, significaria que também apenas em dois destes 11 estados o vencedor teria cor diferente do que aconteceu nas duas eleições anteriores. Em 2008, concorrendo contra John McCain, Barack Obama levou a melhor na Carolina do Norte, um estado que escapava aos democratas desde 1976, quando Jimmy Carter bateu nas urnas Gerald Ford. Mas quatro anos mais tarde, em 2012, Obama não conseguiu repetir o feito e Mitt Romney saiu vencedor na Carolina do Norte. Agora, Hillary Clinton parece capaz de reconquistar o estado para o Partido Democrata.
Movimento inverso verifica-se no Iowa. Entre 1988 e 2012, só por uma vez, nas eleições de 2004 (GeorgeW. Bush contra John Kerry), os republicanos levaram a melhor. Donald Trump, com uma vantagem de 3,7 pontos percentuais, afigura-se como favorito.
De acordo com o sistema eleitoral norte-americano, a vitória em cada estado é fundamental. Ao vencer num determinado estado, o candidato arrecada todos os grandes eleitores desse estado e são esses grandes eleitores que depois decidem o vencedor das eleições no chamado colégio eleitoral. Na soma de todos os estados estão em disputa 538 grandes eleitores, o que significa que são necessários 270 para conseguir a maioria.
No limite é possível um candidato ganhar o voto popular a nível nacional e mesmo assim perder as eleições. Foi o que aconteceu no ano 2000. O democrata Al Gore conseguiu a preferência da maioria dos norte-americanos (48,4% contra 47,9%) e arrecadou mais meio milhão de votos do que George W. Bush. Ainda assim, foi o republicano que ficou com o bilhete para a Casa Branca, ao somar 271 grandes eleitores.
Além deste caso, só houve outras três ocasiões em que o candidato que teve mais votos populares acabou por perder as eleições, todos eles remontam ao século XIX: John Quincy Adams em 1824, Rutherford B. Hayes em 1876 e Benjamin Harrison em 1888.
Fazendo fé no que dizem as sondagens, Hillary Clinton é a favorita. Segundo o site Real Clear Politics, entre “sólidos” e “prováveis”, a candidata democrata soma 169 grandes eleitores e Donald Trump apenas 126. Se a estes somarmos os “a pender para”, Hillary passa a contabilizar 272 (que são suficientes para garantir a vitória).
“Em disputa”, de acordo com a mesma fonte, há 140 grandes eleito-
res: Texas (38), Florida (29), Ohio (18), Georgia (16), Carolina do Norte (15), Arizona (11), Nevada (6), Iowa (6) e Maine (1)– o Maine, que vale três grandes eleitores, e o Nebrasca, que vale cinco, são os únicos casos em que o vencedor não leva todos.
Simplificando os cálculos, isto significa que Donald Trump, para poder aspirar à vitória, teria de vencer todos os estados “em disputa” e ainda ir roubar um daqueles em que a vitória está “a pender para” Clinton. Nesse grupo encontram-se seis estados que o Politico definiu como swing states e são precisamente os seis que faziam Hillary esboçar um sorriso no início deste texto.
Ainda faltam 14 dias e em política, principalmente num país fértil em casos como os Estados Unidos, muita coisa pode acontecer, mas parece muito difícil que Donald Trump consiga dar a volta a tanta matemática. De acordo com o especialista em sondagens e estatísticas Nate Silver, a probabilidade de vitória da candidata democrata ontem ao final do dia era de 85,3%.
A nível estadual, o Arizona pode ser considerado, pelo menos até agora, a grande surpresa desta corrida à Casa Branca. Olhando para o histórico desde 1952 houve apenas uma ocasião em que os republicanos não foram os mais votados. A exceção deu-se em 1996, quando Bill Clinton, a caminho da reeleição, levou a melhor sobre Bob Dole (46,5% contra 44,3%). Neste momento, Hillary parece inclinada para conseguir o mesmo feito do que o marido. A média das sondagens calculada pelo Real Clear Politics atribui à democrata uma vantagem de 1,3 pontos percentuais.
Ainda que mais dificilmente, também o Texas pode constituir uma surpresa. A última vez que um democrata conseguiu a vitória foi em 1976 ( Jimmy Carter contra Gerald Ford). Apesar de Hillary estar em desvantagem, já é uma meia-vitória que neste momento o estado esteja na lista dos que estão “em disputa”. De acordo com a última sondagem da CBS News, divulgada no domingo, a vantagem de Trump é de apenas três pontos – no início de setembro era de sete. Poderá Hillary ainda esboçar um sorriso texano?