Diário de Notícias

O português que caça emoções na Liga Mundial de Surf

Vasco Figueiredo é repórter de imagem da WSL desde 2012 e tem muitas histórias para contar. Do trambolhão de Slater no balneário, passando pelos amigos brasileiro­s até chegar a John John, o novo campeão mundial que a câmara adora

- ISAURA ALMEIDA

Nascido e criado em Lisboa há 38 anos, Vasco Figueiredo é repórter de imagem e trabalha para a Liga Mundial de Surf (WSL). A vida dele é filmar os surfistas. Nunca se preocupa com as ondas. Há câmaras fixas e drones para isso. Interessa-lhe o lado mais humano e pessoal, a tristeza e a alegria que os rostos e os corpos denunciam antes e depois de entrarem no mar. Quando Jordy Smith fez um tubo nota 10, por exemplo, ele estava a captar a reação do pai do sul-africano.

“É uma câmara muito especial, a única que é portátil e acompanha os surfistas desde a estrutura até à entrada na água e capta expressões a um, dois metros de distância”, contou o português ao DN, revelando que “é preciso ter mãos firmes” e ser “uma pessoa extroverti­da” para não ter a sensação de que vai incomodar os atletas. E já teve alguns episódios caricatos. “Em 2012, o Ian Wright perdeu e assim que saiu da água, sem querer ou não, acabou por me dar com a prancha na lente. Fiquei com uma má impressão dele”, contou, antes de revelar que no ano passado, no Brasil, mudou a ideia de mau perdedor com que ficou do australian­o.

O pior do trabalho é a dor nas costas, que não o largam. A culpa é da câmara, que pesa uns dez quilos. E a tentação de mostrar imagens menos boas de quem trata mal a sua câmara por vezes “é grande”, mas resiste facilmente. E não tem poder sobre o que filma. Uma vez captou a fúria de Kelly Slater: “Perdeu, entrou esbaforido no balneário, o que não é normal, apoiou a prancha entre uma mesa e o cacifo e atirou-se para cima. A ideia era parti-la, mas como estava molhada, os pés fugiram, ele escorregou e ficou de pernas para o ar. Ergueu-se e voltou a tentar. Partiu-a em quatro. Respirou fundo, apanhou os pedaços e foi dá-la aos miúdos.” As imagens de Slater a dar um trambolhão nunca foram reveladas e são quase um exclusivo da memória de Vasco, pois até a gravação foi apagada!

Trabalhava na empresa Media Luso e fazia um pouco de tudo, futebol, MotoGP, ciclismo (sonha filmar o Tour em cima de uma moto). Até que em 2011, talvez pela paixão pelo mar que o fez perder algumas aulas durante o curso de Comunicaçã­o Social, enviaram-no para Peniche para filmar a etapa portuguesa do Mundial de surf. No ano a seguir estava de volta, mas já a trabalhar para a WSL. “Devem ter gostado do meu trabalho”, atirou entre sorrisos, ele que é um dos quatro portuguese­s a trabalhar atualmente para a WSL.

Já lá vão quatro anos. Criou laços de amizade com muitos surfistas, mais com os brasileiro­s, como Medina, Adriano de Souza e principalm­ente com Ítalo, mas a câmara “gosta mais” é de John John Florence. “É introverti­do, mas podes pôr a câmara a um centímetro da cara que ele não se chateia com nada.” Já “Julian Wilson é um pouco snob, do tipo mantém-te aí que eu estou aqui”.

Vasco é uma espécie de emigrante-residente. “Neste ano se passei dois meses em casa é muito”, revelou, ainda sem a certeza de ir ao Havai coroar John John. Isto porque também é responsáve­l pela filmagem da série da RTP Portuguese­s pelo Mundo e isso pode ter de alterar os planos.

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Vasco Figueiredo trabalha há quatro anos para a WSL a filmar o lado mais pessoal dos surfistas

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