Alheira, um insulto de chorar por mais
Ana trabalhava na Ordem dos Advogados, e esta havia mudado de bastonário. Ana, também advogada, e Elina, a nova bastonária, deram-se mal. Num mundo de advogados, perdoem-me talvez a ingenuidade, a liberdade de expressão é sagrada. Enfim, talvez exagere. A liberdade de expressão é para ser defendida. Defendida, situação que num Estado de direito a ninguém cabe mais do que a advogados. Advogados que são representados pela Ordem dos Advogados. Ordem que, a ser bem nomeada, é praticada sem bastão mas com razão. Mas tudo foi desfeito pela tal querela. A funcionária Ana (advogada) e a bastonária Elina (advogada), conflituando, como é próprio do homem (incluindo as advogadas), fizeram-se isto e aquilo mas nada me interessa senão isto: Ana terá chamado “alheira” a Elina. Foi despedida, também por isso, e a Ordem dos Advogados está a ser julgada num tribunal do Trabalho por causa desse despedimento. Atenho-me ao “alheira”. É um enchido glorioso. Mais do que ela só farinheira. Acresce que a visada veio de Mirandela e podia ser uma forma de a chamar como alfacinha a Santo António. Se me chamassem muamba, era relacionar a minha terra comigo, e eu chorava por mais. Mas podia ser um brasileiro a dizê-lo e muamba, neles, é contrabando. Perguntava-lhe: és aduaneiro ou tens bom gosto? Falava-lhe da fuba bem batida, de mandioca, claro, dendém e quiabos a esfiar na boca. Sei lá, talvez fosse o começo de uma bela amizade. Agora,d espedir, nunca.