Martim regressou a casa sem sinais de maus-tratos
OURÉM A criança de dois anos que desapareceu na segunda-feira foi resgatada ontem pela GNR, mas a investigação continua “Tinha boa cara, o menino.”Vinha molhado, mas não encharcado, e trazia consigo a chucha, a fralda de pano e o um boneco de peluche que o acompanham sempre. Foi assim que os militares da GNR encontraram ontem de manhã o pequeno Martim, num carreiro que atravessa o pinhal das traseiras da casa dos avós, na aldeia de Amieira, a 15 km de Ourém, de onde a criança desapareceu na segunda-feira. Ao todo, Martim esteve desaparecido 25 horas, permanecendo ainda entre as autoridades e a população a grande dúvida: o que lhe aconteceu, desde que foi visto a última vez, no alpendre da casa da avó, até às 10.00 de ontem, quando foi encontrado?
Alertados pelo choro do bebé, os guardas Duarte, Carreira e Godinho, da GNR de Santarém, que o resgataram da mata, desceram com ele ao colo, até o entregarem à mãe. Antes registaram o momento numa foto que correu as redes sociais. Pouco tempo depois, a Judiciária chamou os jornalistas às instalações de Leiria, para dizer que “a investigação não está concluída”.
Naquela aldeia da freguesia de Urqueira não faltam teorias entre os poucos habitantes da vizinhança. Ninguém acredita que Martim conseguisse “fazer aquele caminho todo sozinho, sem se magoar nos muitos tojos que o local tem”, tal como disse ao DN Maria Alice, uma das vizinhas. O percurso – que as autoridades classificaram de dois quilómetros – faz-se pelo meio do mato. “O menino vinha molhado e frio, mas não tinha arranhões nem sinais de ter caído. A minha filha deu-lhe banho, um biberão de leite e ainda um bocadinho de chocolate, que ele gosta muito”, contou Maria Resende Marques, sentada no sofá da sala, ontem à tarde, já depois de levantado todo o aparato das televisões.
Desde manhã que a criança esteve (com a mãe) no Hospital de Santo André, em Leiria, em observação clínica. À hora de almoço, o diretor do serviço, Bilhota Xavier, disse aos jornalistas que o achava “muito bem”. A avaliação não lhe detetou sinais de hipotermia nem de quaisquer “maus-tratos”. Os médicos optaram por ficar com Martim algumas horas “por precaução”, e também o tempo necessário às perícias médico-legais, que poderão ajudar a perceber o que realmente aconteceu ao bebé. A meio da tarde, Martim regressou a casa dos avós. O pai, emigrante em França, viajou para Portugal mal soube do desaparecimento. À semelhança de todo o resto da família (incluindo mãe e avós), também foi ouvido pela PJ.
A partir do momento em que Martim regressou a casa, vindo do Centro Hospitalar de Leiria, a família começou a dar sinais de cansaço dos media, e foi a avó que veio à rua dizer “está tudo bem, estamos muito felizes, já não temos mais nada a dizer”. Quando horas antes recebeu o DN em casa, Maria Marques estava ainda emocionalmente fragilizada, depois de um dia em desespero e uma noite quase em claro. “Deitámo-nos já passava das 03.30.” Mas o menino, que só completa dois anos a 7 de novembro, haveria de aparecer quatro horas depois. São e salvo. PAULA SOFIA LUZ