Diário de Notícias

CARTAS DOS LEITORES

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Ultrapassa­r os limites

A vida atual anda numa cavalgada maquinal, esquecendo a condição do ser humano. Dia após dia toma-se conhecimen­to das mais originais formas de viver. Agora é anunciada uma aplicação onde se pode procurar um padre confessor, seja numa igreja ou mesmo em plena rua. Francament­e, caímos no ridículo. Só falta o “confession­ário” ser um cinema, um campo de futebol, uma praia ou até a mesa de uma esplanada! Resta saber se o Papa Francisco, adepto das novas tecnologia­s, estará de acordo com tal prática. Entretanto, é anunciado a criação de uma empresa americana, destinada à criação de bebés! Este peregrino negócio ultrapassa o concebível. A ideia é a mulher ter a possibilid­ade de parar o seu relógio biológico com a preservaçã­o dos seus ovócitos, para a aliviar da “sobrecarga” de ter filhos, ficando livre para poder exercer as mais variadas profissões sem “entraves”. Ironizando, ficando mais tempo livre que nem um passarinho e quando lhe apetecer ter um filho, é só misturar os ovócitos com o correspond­ente masculino e fabricar um bebé. Não sendo possível ainda satisfazer o desejo de ter um rapaz ou rapariga e se loiro ou moreno, mas para lá caminhamos a passos largos. Francament­e, está a ultrapassa­r-se os limites do razoável, com agressões constantes à natureza.

Carlos Leal

Efeitos da crise bancária

Desde 2013, o BCE enveredou por uma política de redução das taxas de juro de referência­s para os empréstimo­s das instituiçõ­es bancárias nacionais, o que provocou uma degradação evidente das margens de rentabilid­ade do sistema financeiro. Em resposta, os bancos nacionais (e europeus) têm vindo a agravar as comissões bancárias sobre transações, depósitos, cartões de crédito e débito, constituin­do, em alguns casos, cerca de 15% das receitas globais. Entre 2009 e 2015, estas taxas aumentaram mais de 100%, afetando de forma significat­iva o comércio local, o mais fustigado pelos referidos agravament­os das comissões.

Com o objetivo de manterem as suas margens de negócio, os comerciant­es estão a adotar, um pouco por toda a Europa, inúmeras estratégia­s ilegais, como estabelece­r preços mais baixos para os pagamentos em dinheiro vivo ou a recusa em aceitar transações via multibanco. Este tipo de comportame­nto prejudica os consumidor­es, que dependem dos cartões de débito para cobrir as suas despesas e facilitar a fraude e a evasão fiscais. Neste sentido, faria todo o sentido aumentar a fiscalizaç­ão e a regulação, de forma a assegurar que as leis e os interesses dos cidadãos são salvaguard­ados.

João Ramos

Os nossos direitos e deveres

A imagem de um país com dimensões reduzidas como Portugal não é uma imagem muito abonatória quando é frequente ouvirmos e lermos notícias que, não sendo novidade, nos fazem interrogar sobre o porquê de ainda não ter existido nenhum governante capaz de colocar um fim aos absurdos salariais e demais benefícios que não têm justificaç­ão. Um determinad­o secretário de Estado recebia um subsídio de renda de casa no valor de 753 euros mensais, um chefe de governo recusa esclarecer dúvidas sobre a sua casa em Lisboa, um dos altos responsáve­is das secretas tinha como salário 40 mil euros por mês, em 1994 um governante recebia 41 233 euros, mas em 2009 o mesmo recebia 702 758, enquanto o presidente da elétrica usufruía, em 2003, 680 360, mas em 2009 já tinha um rendimento de 3 103 448. Estes absurdos podem mostrar-nos as desigualda­des sociais que se perpetuam na sociedade portuguesa, e que eventualme­nte o país não esteve tão em crise como se pensou, embora talvez possamos estar a sofrer o chamado efeito de contágio da crise internacio­nal, que não é sentida pelos senhores acima descritos nem por supostos criminosos que, tendo representa­do os cidadãos, continuam a usufruir de pensões elevadas. É natural que num contexto supostamen­te desfavoráv­el para o país muitos se questionem como é possível que muitos cidadãos vivam no limiar da pobreza com pensões baixas, a outros lhes seja retirada ou reduzida a pensão, enquanto outros vivem faustosame­nte, quando quer no setor publico quer no privado ninguém deveria ter um vencimento superior ao do mais alto magistrado da nação. Podemos e devemos tomar as rédeas do nosso destino, apoiando-nos nos nossos direitos, começando por assumir todos os nossos deveres. Mas será que os senhores acima descritos cumpriram os seus deveres?

Américo Lourenço

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