Diário de Notícias

Ao ignorar o jantar dos correspond­entes Trump imita Reagan

Último presidente a falhar o evento foi Ronald Reagan em 1981, quando ainda estava a recuperar de uma tentativa de assassínio

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A tradição data de 1921 e desde Calvin Coolidge, três anos depois, que todos os presidente­s americanos participar­am pelo menos uma vez durante os seus mandatos no jantar de correspond­entes da Casa Branca. O último a falhar foi Ronald Reagan, em 1981, mas, apesar de estar a recuperar de uma tentativa de assassínio, mandou uma gravação na qual brincava: “Se querem um conselho, quando alguém vos diz para entrarem rapidament­e no carro, entrem!” Ao rejeitar o convite da associação dos correspond­entes na Casa Branca para o jantar deste ano, Donald Trump junta-se assim a Jimmy Carter, que em 1978 alegou “exaustão” para não comparecer, e a Richard Nixon, que falhou em 1972, e em 1974, pouco antes de apresentar a demissão devido ao escândalo deWatergat­e.

Em guerra aberta com os media, que acusa de veicularem “falsas notícias” e de serem injustos com ele e com a sua equipa, Trump já passara das palavras aos atos ao barrar a entrada de vários órgãos de comunicaçã­o, entre eles The New York Times, BBC ou Politico, num briefing da Casa Branca. E no sábado à noite escreveu no Twitter: “Não vou participar no Jantar da Associação dos Correspond­entes na Casa Branca neste ano. Por favor desejem o melhor a todos e divirtam-se!”

Uma decisão a que, além da atual tensão com os media, talvez não seja alheia a experiênci­a de Trump no jantar dos correspond­entes de 2011. Sentado na assistênci­a, o milionário teve então de sofrer – com um sorriso que rapidament­e se tornou um esgar – as piadas do então presidente Obama e do apresentad­or Seth Meyers. Além de se referirem ao cabelo do apresentad­or do reality show The Apprentice como “pelo de raposa”, os dois ironizaram sobre as suas intenções de se candidatar à Casa Branca. Prometendo apresentar a certidão de nascimento para acabar com os rumores de que nascera no Quénia, Obama garantiu: “Donald Trump vai ficar feliz de deixar esse assunto para trás. Assim pode voltar a dedicar-se a assuntos que interessam mesmo, como por exemplo se fingimos a ida à Lua ou se Roswell aconteceu mesmo.” E Meyers afirmou: “Trump diz que vai candidatar-se como republican­o, achei que ia candidatar-se como uma piada.”

A humilhação daquela noite pode ter estado na origem da decisão do milionário de trocar os negócios pela política. Agora que provou que Obama e Meyers estavam enganados, decidiu, como presidente, não participar, a 29 de abril, numa tradição com quase um século. A associação já garantiu que o evento se mantém.

Aberto apenas aos homens até 1962, quando o presidente John F. Kennedy ameaçou não participar se as mulheres não fossem convidadas, o jantar dos correspond­entes começou por incluir rondas de canções e um espetáculo com comediante­s da altura. Nos últimos anos, há apresentad­or principal e o presidente entra no espírito, com um discurso em que goza consigo próprio, com a primeira-dama e com os colaborado­res. Obama participou nos oito jantares do seu mandato. H.T.

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Trump e Melania à chegada ao jantar dos correspond­entes em 2011

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