Diário de Notícias

Bolsas de estudo vão passar a durar três anos

A partir de julho, os apoios estatais – sejam novas candidatur­as ou renovações – vão durar todo o curso. A medida será apresentad­a hoje pelo ministro Manuel Heitor e visa simplifica­r processos. Este ano já deram entrada 94 mil pedidos de bolsas.

- PEDRO SOUSA TAVARES

Já a partir de julho, os estudantes do ensino superior que se candidatem a bolsas – pela primeira vez ou para renovação – serão abrangidos por um regime plurianual, válido por todo o curso. A medida, que será apresentad­a hoje no Parlamento pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, visa simplifica­r e agilizar processos, baseando-se na confiança mútua entre o Estado e os alunos. Neste ano letivo, quase 94 mil estudantes já se candidatar­am aos apoios do ensino superior.

“Quero introduzir um sistema de confiança, onde se contratual­iza por três anos com os estudantes, de forma que os processos de renovação se tornem mais eficientes”, confirmou ao DN Manuel Heitor, explicando que a medida altera o atual paradigma, em que o aluno, mesmo o que já é bolseiro, tem de provar todos os anos que reúne as condições para receber os apoios antes de ter as verbas desbloquea­das. “Sabemos que os estudantes que se tornam bolseiros tendem a manter-se bolseiros no seu percurso académico”, lembrou. “Em vez de estarmos a impor um sistema de desconfian­ça dos estudantes, em que estes só depois de certificad­os recebem, vamos estabelece­r um acordo plurianual.”

Caso algum dos pressupost­os para receber os apoios fique por cumprir, nomeadamen­te ao nível do aproveitam­ento académico, os estudantes poderão ter de “devolver” verbas adiantadas. No entanto, os riscos para o Estado deverão ser diminutos, já que os valores respeitant­es a todo o contrato não serão pagos “todos de uma vez”, mantendo-se provavelme­nte o modelo de financiame­nto atual.

Os alunos recebem geralmente as bolsas mês a mês, de forma a coincidir com os pagamentos das mensalidad­es às instituiçõ­es do ensino superior – a maioria das bolsas atribuídas equivalem aos valores das propinas –, podendo também optar por um pagamento único anual.

Processos levam 44 dias a validar A grande vantagem para os estudantes deverão ser os prazos de pagamento das bolsas, com o ministério a prever o pagamento das bolsas logo após a inscrição no ano letivo, em setembro, no caso das renovações automática­s, e no mês seguinte para os alunos que se matricular­em no ensino superior pela primeira vez em 2017-18.

De acordo com dados da Direção-Geral do Ensino Superior, baseados na média dos últimos quatro anos, os períodos de aprovação dos pedidos de bolsa, entre a submissão e a decisão final, rondam os 44 dias. Prazos que o ministro reconhece serem incomportá­veis: “A acumulação, devido aos atrasos dos serviços académicos, nomeadamen­te das instituiçõ­es privadas, está a levar a atrasos de meses”, lamentou. “Há estudantes que só agora receberam a bolsa, quando as aulas começaram em setembro.”

Neste ano letivo, devido à alteração dos critérios de elegibilid­ade para as bolsas, que alargaram o leque de alunos abrangívei­s, houve um aumento de cerca de quatro mil requerimen­tos, com um total – até meados de fevereiro – de 93 958 candidatur­as, 82 888 das quais respeitant­es ao ensino superior público. Segundo Manuel Heitor, as bolsas pagas neste ano “já ultrapassa­ram as 70 mil”.

Estudantes agradecem O ministro tem vindo a reunir-se com representa­ntes das instituiçõ­es e dos alunos – nesta segundafei­ra encontrou-se novamente com representa­ntes do movimento estudantil – e as reações são positivas. “É uma resposta a um problema que tem sido paradigmát­ico em todos os alunos letivos”, disse ao DN João Rodrigues, da Federação Académica de Lisboa. “Há anos em que o tempo de espera em termos médios é superior, outros em que é inferior, mas é sempre um prazo insustentá­vel. Não se admite que em março ainda existam estudantes que não sabem se vão ter bolsa neste ano letivo”, defendeu.

Além da agilização de processos, o dirigente estudantil considerou também “positiva” a transferên­cia de responsabi­lidades dos serviços de ação social das instituiçõ­es para os alunos, que passam a ter de comunicar qualquer alteração à sua situação. “O estudante sabe com o que contar e os serviços passam a ter uma ação não tanto interventi­va mas preventiva”, disse. Entre as propostas dos alunos está a melhoria da plataforma BeOn, da DGES, de forma que “ao candidatar-se online,o aluno fique imediatame­nte a saber se preenche os requisitos necessário­s para lhe ser atribuída a bolsa”.

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Demora na atribuição de bolsas é uma das queixas mais frequentes das associaçõe­s de estudantes

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