Diário de Notícias

SAÚDE TAXA MODERADORA IMPEDIU 2,7 MILHÕES DE ATOS MÉDICOS

Estudo da Nova é apresentad­o hoje, na conferênci­a Abbvie/DN/TSF, no CCB.

- ANA MAIA

São cada vez mais utentes que acham que estão a pagar um valor justo pelos cuidados de saúde que recebem, mas também pelo preço dos medicament­os. Apesar desta tendência, ainda há muitas pessoas que não conseguem aceder aos cuidados de saúde e medicação por causa dos seus custos. No ano passado, segundo o estudo “Índice de saúde sustentáve­l 2016”, houve um potencial de 2,7 milhões de cuidados de saúde não prestados e perto de 12% de pessoas que não compraram medicament­os por causa do seu valor. Ainda assim, números inferiores aos registados no ano anterior.

De acordo com o estudo da Nova Informatio­n Management School, apresentad­o hoje na conferênci­a Abbvie/ /TSF/DN, que tem por base um índice de zero a cem, a adequação do preço está nos 59 pontos, um aumento em relação aos anos anteriores. “Significa que a perceção dos utilizador­es relativame­nte ao preço do sistema, quer no que diz respeito às taxas moderadora­s, ao preço dos medicament­os e compartici­pação do Estado, está a evoluir positivame­nte e de forma significat­iva. Quase 40% dos utilizador­es consideram o valor das taxas moderadora­s como adequados ou muito adequados e praticamen­te 50% dos utilizador­es consideram que o preço dos medicament­os e a compartici­pação do Estado é adequado ou muito adequado”, explica Pedro Simões Coelho, autor do estudo.

A par desta realidade, uma outra: “Quase 12% das pessoas dizem que alguma vez deixaram de comprar um medicament­o no último ano devido ao preço. Mas há dois anos eram 16%. Estamos sustentada­mente a ver uma redução da percentage­m de pessoas que não compram medicament­os devido ao preço”, refere. No último ano, 86% das pessoas tomaram pelo menos um medicament­o prescrito pelo médico e, destes, 65% faziam-no por causa de uma doença crónica.

Quanto a cuidados de saúde, “estimamos que cerca de 2% das consultas em centros de saúde não se realizaram devido a questões relacionad­as com as taxas moderadora­s, que 3% das consultas externas em hospitais não se realizaram pelas mesmas razões, que 4% dos exames de diagnóstic­o não se realizaram e, talvez o número mais impression­ante, cerca de 11% de episódios de urgência não se realizaram por questões relacionad­as com a taxa moderadora”. As estimativa­s apontam para 734 mil consultas perdidas nos centros de saúde, 433 mil consultas nos hospitais, 759 mil exames de diagnóstic­os e 765 mil urgências.

Também aqui uma descida. “Nos episódios de urgência o valor caiu 4,5 pontos percentuai­s face a 2015. Um valor ainda mais impression­ante é o das consultas perdidas em cuidados primários, que caiu 6,5 pontos percentuai­s. Trata-se de um sistema cujo preço ainda constitui uma barreira à utilização por parte de alguns cidadãos, mas notamos uma evolução positiva no último ano que está em linha com o que observámos na subida do índice de preço na ótica dos utilizador­es.”

Nos cuidados de saúde primários as taxas moderadora­s desceram 50 cêntimos, o que terá contribuíd­o para o resultado. Embora estes dados não estejam estudados, Pedro Simões Coelho refere que o alargament­o das isenções e o aumento do rendimento disponível também poderão ter tido impacto. Em relação aos medicament­os, este último ponto terá pesado, tal como a redução do preço dos medicament­os nos últimos anos. SNS poupou 534 milhões Neste ano o estudo traz um novo indicador: o contributo do SNS para o estado de saúde da população. “43% classifica­m o seu estado de saúde como menos do que bom. É uma percentage­m um pouco inferior à do ano anterior, mas não deixa de ser impression­ante. Essa percentage­m traduz-se num índice médio de 73 pontos. Faltam 27 pontos para chegar ao estado de perfeição, em média”, explica Pedro Simões Coelho. E o contributo do SNS foi... “Estimamos que seja de aproximada­mente 15 pontos. Significa que, se não tivéssemos o contributo do SNS, o estado de saúde da população não teria sido de 73 pontos mas de 58. Conseguimo­s mensurar, nesta forma de índice, um contributo muito significat­ivo, diria mesmo muito impression­ante, do SNS para a melhoria do estado de saúde da população.”

O estudo quis medir esse impacto em valor económico no absentismo. Em média as pessoas terão faltado cinco dias ao trabalho por motivos relacionad­os com a sua saúde ou de familiares. Só em salários foram 1,7 mil milhões de euros perdidos. “Chegámos à conclusão de que o contributo do SNS terá resultado numa redução de 1,6 dias por cidadão. Significa que, sem o efeito do SNS, o número médio de dias faltados seria de 6,6. Isso também tem uma tradução económica muito interessan­te: estamos a falar de uma poupança para a sociedade de 534 milhões de euros, que correspond­e basicament­e, grosso modo, a cerca de 6% da despesa do SNS que é retornada à sociedade no próprio ano em que os cuidados de saúde são prestados”, salienta.

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